EXISTINDO NA ESPERANÇA
Afundado no velho sofá rebaixado pelo uso familiar em épocas mais felizes, tarde da noite, o coração lamentando no frio escuro no peito apertado soprando a boca seca ao telefone, buscando alcançar outra alma viva para dividir lamentos e implorar sugestões que aplacassem a dor desalmada do coração solitário.
Os filhos crescidos e espalhados, a ex companheira, alheia e renovando-se num encanto novo, parecia mais jovem, mais bonita, mais nua de óculos escuros do que vestida no bikini mínimo e colorido! Ele, estático. Nada fez desde o desfecho inevitável e mal resolvido da separação, sozinho e fiel aos sentidos vividos, inutilmente confiado na comunhão infecunda e masoquista fantasiada, de algum modo, no retorno da amada ausente, supostamente atinada ao seu silente pesar.
De dia, agindo meio vivo, fazendo sem sentir o ato num mundo apequenando à cada momento passado, na esperança aflita que a qualquer dia, a qualquer hora ela estaria lá, arrependida, rogando pela volta.
Nem os amigos mais próximos delegaram seus ouvidos ao lamento constante e contínuo! Apesar disso, fervorosamente, desejava o repentino milagre da reversão, presumindo o malogro unilateral dela advindo, e sua participação involuntária e surpresa.
Contudo, assumiria as faltas dela! Queria tanto revê-la, meramente, para vislumbrar o semblante adorado. Assim, viveria por mais uns momentos de devaneios auspiciosos até a próxima impressão cruel da possível realidade inaceitável.
Alheio estava ao olhar fiel e assente de seu cão, ignorado aos seus pés!