Como lidar com Haters Neuróticos
Hater neurótico é aquele cara que em outros tempos era chamado de indivíduo de ideia fixa. O assunto é sempre o mesmo e a relação entre o tema e a opinião são fracas ou inexistentes, porém óbvia para o hater. Exemplo: Temer anuncia pacotes de privatização > comentário: "chora petralhas, Lula Ladrão". Aqui a gente capta muita coisa, pois diante de uma decisão que independente da ideologia afetará o país, o que se espera são questionamentos, defesas, argumentações. Mas o que aparece para o hater é a chance de usar o assunto para provocar quem nem sabe de sua existência.
É claro que uma pessoa normal pode encontrar ligações inusitadas ou explorar conexões controversas para debater, provocar ou fazer piada. A diferença é que uma pessoa normal tem consciência disto, enquanto o neurótico não percebe que a conexão é fora do contexto estabelecido na comunicação.
É a mesma coisa que conversarmos com alguém sobre problemas financeiros na empresa e incompetência do chefe. As pessoas dizem o que viram e o que ouviram falar com o intuito de formar uma opinião sobre os fatos. O neurótico diz isto aqui é uma "República de Bananas" os "esquerdalhas" acabaram com este país. O ouvinte concentrado no problema até vai analisar se a situação da empresa se explica por decisões econômicas, mas o que interessa pra ele é saber se a empresa vai fechar e se o chefe vai dar conta de reverter. Aí ele explica para o neurótico isto, e este continua dizendo "O PT acabou com este país".
Aqui o ouvinte já percebeu que não estão falando a mesma língua, aí ele ousa criticar o hater para que assunto não perca o foco. O hater se volta contra ele, com o intuito de manter e impor sua pauta: a explicação de todo mal que afeta o país culpando um único partido por isto. Então o neurótico, que não necessariamente é burro, solta um "você é petista, você tem bandido de estimação". Pronto! O ouvinte entra no jogo e começa a ofender o hater.
O hater então vira o jogo e começa a dizer que na empresa se não for petista não tem voz. Que a empresa esta quebrando por que é chefiada por comunista e que lá esta cheio de esquerdopatas, e por aí vai.
Então preocupado com sua situação, ele busca ajuda na internet. Descobre vídeos do Olavo de Carvalho onde ele defende que há uma conspiração da esquerda no Brasil para fazer disto aqui uma ditadura comunista. Pronto! Agora ele vê comunismo em tudo que o contraria e que destoa de seu pensamento.
Concordar com o adversário e ser enganado se tornam sinônimos. É preciso não ouvir, não entender e se preciso calar quem tenta te convencer. O insulto, a grosseria e mesmo a agressividade é o equivalente adulto da técnica infantil de tapar os ouvidos e cantar para não ouvir uma bronca. É preciso bloquear a mente, para que ela continue acreditando, para que o cultivo da crença produza convicções e com estas o conforto moral.
Como disse o mestre desta gente: "Não respeite comunistas, destrua-os".
> O inimigo em toda parte
O que nos mostra outro aspecto desta neurose é a internalização do inimigo. Ele esta escondido, ele esta disfarçado de colunista d' O Globo, ele está nas novelas, ele está em Wall Street forjando a nova ordem globalista. Ele está mesmo em jornal e revista conservadores que se recusam a dizer que nazismo é de esquerda.
Ele está no professor que insiste em mostrar que desigualdades sociais não são naturais e nem individuais mas resultantes de um determinado sistema econômico.
Este tipo de hater vive um conflito dentro de si. A razão e os fatos nem sempre acompanham a necessidade de acreditar que o mundo se divide entre o que ele acha ser o certo e seus inimigos. A razão e os fatos são relativizados de forma a caber neste esquema e o deixar tranquilo de que o inimigo não o engana.
Este tipo vê inimigo em velhos amigos de infância, parentes, chefes, professores, colegas, em coisas que aprendeu. De repente, a amizade, o respeito, a autoridade, o carinho e a parceria são vistas como uma farsa ou disfarce que escondia o então inimigo.
> A inteligência sequestrada
O hater neurótico canaliza sua inteligência a serviço da neurose. Suas leituras, produções artísticas e interesses são voltados para alimentar sua neurose. Ele vai chamar de inteligência a vigilância contínua sobre os próprios pensamentos e sobre os pensamento dos outros. É preciso perseguir qualquer suspeita de desordem, de ceder a posição do inimigo, de ser enganado por ele. Isto tanto interiormente quanto exterior.
> O conflito dentro de si
O hater neurótico é o indivíduo que não internalizou as normas morais de tal forma a não precisar de elementos externos como o Estado, partido, líderes e religiões fundamentalistas como motivação para sua obediência.
Um indivíduo normal obedece as regras e normais morais por que encontra um valor pessoal e afetivo nelas. Ele sabe das punições legais e morais, mas para ele a vergonha e decepção consigo mesmo por desobedecer estas regras é uma penalidade tão ou mais pesada que a prisão.
A figura paterna ou qualquer outra que represente estas normas, se dispõe a ensiná-las e a protegê-las, é fundamental neste processo. A falha neste processo, que pode ocorrer quando a figura paterna se revela hipócrita ou traindo o que ensina pode levar a escolha de outro indivíduo para esta tarefa.
Referências severas demais podem induzir uma falsa oposição entre prazer e moral. Então se a moral severa se internaliza, o prazer será pecaminoso e obsceno produtor de culpa. Se a moral não se internaliza adequadamente, por causa deste conflito, ela se torna superficial. Esta superficialidade é fraca pra conter o prazer, porém sua superficialidade gera também uma insegurança terrível com o mundo. Isto é, se a moral que aprendi é algo superficial a moral do outro também é, logo o mundo é pouco confiável e inseguro.
Creio que este última forma de resolver este conflito cria o tipo que projeta no Estado, lideranças fortes e religiões fundamentalistas a segurança moral que não encontra em si. Ele precisa de algo de fora, que se impõe do externo para o interno. É como se ele revivesse o conflito na infância e se reencontrasse com um pai, só que agora mais forte e capaz de lhe dar uma moral imponente.
> O elo político psicológico
O que representa tanto de fato quanto em estereótipos a esquerda é sua posição contra a ordem estabelecida. Questionam costumes, tradições, poderes, lideranças e buscam ideias de igualdade chocantes para qualquer sociedade que tenham por base as desigualdade sociais e hierarquias herdadas e predestinadas.
O que o governo do PT fez, ainda que algo tão tímido que não os afasta de um posicionamento de Centro, mexe, ainda que mais simbolicamente do que de fato, nesta visão desigual e hierárquica de mundo.
Negros entram em universidades sem a filtragem econômica e social das escolas particulares e cursinhos. Mulheres ganham instrumentos jurídicos contra agressões domésticas e sua desigualdade no mercado de trabalho é colocada em evidência.
A fome deixa de ser vista como uma punição pela incompetência e um desestimulo a vagabundagem e passa a ser tratado como dever de políticas públicas e questão humanitária.
Leis e discussões em defesa dos LGBTT's ganham força e legitimidade em um país onde ser heterossexual e homem significa ter vantagens sociais e econômicas restritas a outras orientações e gênero.
Direitos Humanos são contrapostos a velha política e símbolo masculino do uso da violência como direito e dever do papel masculino. Armas são recolhidas e restrições estabelecidas para o porte das mesmas.
Todo este cenário, além de questões econômicas, é um contexto fácil de se reler como caótico para o neurótico. O uso deste neurótico para fins políticos foi bem facilitado, digo mais, em situações de mudanças rumo a menor desigualdade social, este cara é perfil certeiro para a tarefa de oposição odiosa e muitas vezes gratuita.
> Como lidar então?
Tenha consciência de que são pessoas agressivas. Pode não passar de ofensas ou jogos psicológicos, mas a agressão é sua forma de defesa principal. Seu questionamento ou mesmo posicionamento político não é algo pessoal, de cada um, individual, para ele é uma ameaça e um desafio.
Você não é alguém que discorda é um adversário, mesmo quando nem conhece a pessoa.
Não tente argumentar ou mesmo acredite que isto vá fazer algum efeito na sua forma de crer. Se der a ele a um argumento contrário, ele tentará te desautorizar e desacreditar com ofensas ou deturpar o que você esta falando. Não é atoa que muitos deles adoram um famoso livro do Schopenhauer sobre como vencer discussões sem ter razão ( que até mesmo o autor teve vergonha de publicá-lo).
Muitos haters neuróticos se julgam especialistas ou mesmo possuem alguma bagagem, mas não se iluda achando que querem argumentar. Um hater inteligente tem seu conhecimento colocado a serviço da neurose, é possível que ele lide com você como inimigo e não como um debatedor. Então tentará utilizar o que sabe pra te humilhar, mais do que pra te convencer ou entender seus argumentos.
Evite discutir com alguém quando perceber ser tratar de hater. Ignore, bloqueie e evite assuntos gatilhos. Se não tiver jeito de evitar, tome os seguintes cuidados:
a) Evite entrar na disputa agressiva. Estes caras pensam o tempo todo em como desmoralizar, desautorizar e constranger que lhes opõe alguma coisa. Por exemplo: ele vai falar de erros de português, ele tentará mostrará que você não sabe o que fala, tentará te deixar inseguro questionado suas credenciais, te ofenderá para que deixe seus argumento e parta para o terreno que eles dominam. Enfim fará qualquer coisa para te desviar da argumentação que o incomoda.
b) Cuidado com suas sondagens psicológicas: há estudos que apontam esta características nos neuróticos de pensar e repensar o que falou e o que falaram com ele. Como um filme rodando várias vezes para se buscar erros e falhas próprias e dos outros. O neurótico faz isto de forma muito mais frequente do que pessoas normais.
Ele tentará traçar seu perfil em busca de vulnerabilidades. Se for inseguro, irão explorar isto. Se for uma pessoas nervosa tentarão te provocar. Se for tímido te dirão coisas constrangedoras. Se for feminista lhe perguntará "já lavou roupa hoje?". Se for negro dirá "conheço um negro que é dono de empresa". Se for pobre dirá que tem um "tio que era office boy e hoje é gerente de pessoal".
Estas falas aparentemente inofensivas servem para tocar na ferida: da mulher que se ressente com o machismo ele relembra "seu" lugar, para o negro ele diz que a competência e não a cor é seu problema, para o pobre diz que seu tio batalhou muito e conseguiu.
Ele irá testar o que sabe sobre si mesmo e outras pessoas com o intuito de te paralisar - de te fazer parar de incomodá-lo com seus argumentos.
c) Não se sinta constrangido. Pessoas normais geralmente questionam as outras com o intuito de entender algo que foge do seu senso comum, elas querem entender melhor ou entender por que estariam erradas. Note isto! Pessoas normais questionam para tentar entender e logo estão abertas para a argumentação. Elas tentam se colocar no seu lugar e entender o ponto de vista que utilizou para ter suas conclusões.
Não se engane. O hater pode até mesmo se passar por alguém interessado em argumentar, mas fará com o intuito de te fazer expor sem cuidados. O hater não se interessa em entender suas razões, ele se interessa em neutralizar os efeitos psicológicos que sua argumentação possa ter sobre ele ou sobre quem ele quer influenciar.
> Deixe que psicólogos, psiquiatras e a justiça, se for o caso, resolvam o problema do hater neurótico.