Ser-se vaso precioso

Vaso é um objeto meio que sem necessidade, mas que em praticamente todas as casas em que já entrei há um ou mais. Sua função geralmente é guardar trecos, receptáculo do que não queremos descartar, mas também não queremos expostos. E, sua primeira função, acolher flores para perfumarem o ambiente, tornou-se absoleta com a descoberta do petróleo e, então, as criativas flores plásticas. Por outro lado, ainda é melhor que sua função primitiva, de urna funerária.

Mas esse texto é sobre VIDA e não sobre flores mortas. Esse texto é sobre a força que a palavra vaso tem em nossas vidas. Eu trabalhava Literatura há uns 5 anos numa escola particular e, ao explicar sobre o Parnasianismo, relia com os alunos o poema Vaso Chinês e, naquele momento algo em mim mudou, quando caí em mim da significação do vaso em minha vida, ou melhor, o vaso que é minha vida e isso, de uma maneira metafórica, começaria a me transformar de um modo irreversível.

Somos vasos, somos frágeis, somos delicados, feitos da mais fina e pura porcelana. E estamos sobre supérficies não tão planas e seguras, por isso estamos sempre oscilando, sempre na iminência de cairmos e nos espatifarmos no chão da morte. Mas aí é que entra nossa essência interior. Somos vasos vazios que vamos enchemos com o que nos fortalece ao longo dos anos que vivemos. Ou seja, cabe ao nosso interior estar lotado de substancias fortes a fim de manter esse vaso sobre essa superficie plana em segurança sem permitir que ventos ou vendavais nos derrubem.

As substâncias que nos mantêm firmes e seguros são simples; mas extremamente firmadoras. E as enumero aqui conforme minha compreensão:

Deus. Sem Ele perdemos o foco de existirmos e perdemos o rumo da “casa celestial” a que pertencemos, pois somos criação divina, filhos de Deus.

Família. Nosso conforto e segurança que Deus nos empresta para conviver harmonicamente naquele meio a fim de que possamos propagar as coisas boas aprendidas a todos os outros.

Trabalho. Ter uma atividade, remunerada ou não, nos torna úteis ao convício social. Seja qual for nosso trabalho, se o fazemos com vontade, com garra, com afeto e com alegria, nada nos desanima. E o trabalho passa a ser um prazer, pois é uma parte de nós doada ao próximo.

Amigos. Poucos, mas sábios para perceberem nuances sutis de mudança em nós quando estamos mal e nos abraçam com palavras, com afetos, pois são fortalezas seguras quando a família está longe ou não nos percebe quando estamos perto.

Para algumas pessoas, deve haver o quinto item ou mais; mas como cada um de nós é um vaso ímpar, com cores peculiares, texturas, tamanhos, desenhos diferentes importa mesmo é ir enchendo nosso interior com “material” que valha a pena estar seguro na hora dos vendavais da vida.

Que não sejamos porta-treco ou flores de plástico; mas que possamos abrigar no interior de nossos vasos – nossa vida – o que nos faz feliz e nos traz segurança para entendermos o quanto a nossa existência é valiosa e não nos arrastarmos, voluntariamente, para o chão a fim de quebrarmos nossa preciosa porcelana, assim como tudo que, arduamente, vamos juntando e guardamos dentro de nós mesmos.