A PLANTINHA
Ela nasceu numa mínima fresta no concreto do chão, sob a marquise da nossa varanda. Cresceu bem, deu até frutos. Nós daqui de casa ficamos sem entender. Como pode? Que mistério da vida é esse? Ninguém plantou e nasceu? Ninguém semeou e colheu?
Mas o fim dela, coitada, foi triste. Presa à sombra, sem água, sem o contato direto com os raios do sol, logo adoeceu. Suas folhas, antes verdinhas, em pouco ressequidas e murchas. Até que o fim precoce chegou.
Quantas plantinhas como essa nos sinais de trânsito, pedindo esmolas, vendendo balas, fazendo malabares! Nós, sem tempo de regar, sem ânimo de ajudar. Não pediram para nascer esses pobres abandonados. Tampouco quiseram ser condenados à morte lenta, por sede, vendo a chuva de longe, sem poder sair debaixo da marquise.