Adultagem
Me sinto tomado por uma sensação de que estou chorando minha própria morte. Sem nenhuma perspectiva de volta, de um sorriso ou de um sentimento realmente profundo e sincero. Me sinto invadido pela adultagem, roubado pra sempre do sonho infantil de acreditar em coisas melhores e maravilhosas. Sem nenhum brilho, sem um abraço tão carinhoso que me faça sentir que tenho alguém e esse alguém é alguém bom. Sinto-me... na verdade, não me sinto. E é isso apenas, nada restou. Um dia as novidades acabam, um dia cessam as ideias, um dia a loucura maravilhosa do amor tona-se rotina sem vontade. E é isso, apenas. Tudo vai se acomodando até simplesmente deixar de existir dentro de nós como fogo, como desejo. E se transforma em sabedoria, ceticismo, mesmo sem se querer. É obrigatório. Cria mais um passo de distância para qualquer coisa que seja realmente estar vivo. Para quem já se sentiu assim, isso é insuportável e só. É como se assistir morrendo e chorar o uma única lágrima silenciosa por se saber que, se não fosse por um triz, poderia haver salvação.
(março 2017)