O mistério dos mistérios
Pensando o mistério dos Mistérios
Olhando para nós entre os nós da existência, saltou do pensamento uma intrigante afirmação: somos mistêrion. Palavra de origem grega que, dentre muitos outros sentidos, traduz algo que concomitante ao ato de revelar-se, oculta-se. Nela, para este pobre pecador, reside a essência expansiva daquilo que entendemos como mistério. Assim também é o ser humano, ouso apostar, como cantou Maria Betânia, esse bordado que tem a parte essencial velada no avesso do conhecido.
Por essas veredas incertas caminham psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e líderes espirituais, travando o duro embate do encontro com o essencial, escondido nas entrelinhas do não dito por aquele particular mistério feito gente que a eles recorrem. Pobres almas aflitas! Esforçam-se por recolher as peças do infinito quebra cabeça desmontado e moído pela vida! Valha-me Freud!
Alargando horizontes, todas as relações humanas estão infestadas de mistério. Colocar no bolso de uma amizade segredos é um depósito de riscos, pois quem melhor que nossa própria experiência individual limitada para dizer a fraqueza da moral que habita nas quatro paredes da carne que nos circunda e apela. Dar parte das fraquezas a alguém é tornar-lhe responsável por inteiro. Há aqueles que morrem afogados em si mesmos por receio de decepções.
Não há maior mistério que a arte de rasgar as aparências e contemplar a carne das fraquezas humanas sem julgamentos de perfeição...
No entanto, quanto maior for o mergulho no oceano do mistério, mais consciência se tem da ignorância sobre ele. Entre silêncios e palavras, entre afetos e pecados confessados, reside a maravilhosa arte de abraçar com a alma a certeza das nossas existenciais incertezas. No fundo, voltamos ao mistério que nos constitui. Seja bem- vindo ao mundo dos humanos, sinta-se em casa.