Entre a mesa do bar e a Luz das Estrelas há um abismo
Eu não poderia chamar de amor. Ele já havia sido amado, o tipo de amor mundano, barato, superficial. Ainda assim, amor.
Eu também. Já ouvira tantas declarações açucaradas (e outras nem tanto), que podia distinguir entre uma coisa e outra. Amor, somente... Não era.
Também não era apenas paixão. Ainda que em alguns momentos fosse tão arrebatadora que me perdia em construções imaginárias de um Taj Mahal, um livro, poemas e obras perfeitas apenas para impressioná-lo.
Paixões existiram tantas, com tanta intensidade e tão passageiras como uma chuva torrencial de verão.
Um tipo de posse talvez, mas nem isso. Ainda que, instintivamente e escancaradamente "ser dona" de qualquer parte, pensamento ou emoção que viesse dele, balançava a minha razão.
Não se tratava de admiração, atração, desejo ou até mesmo de orgulho por ter vencido qualquer tipo de batalha, real ou imaginária.
Era algo mais.
Mas era tudo isso também.
Algo além. Que fugia completamente da lógica, que se perdia em explicações, que se cristalizava em palavras que nunca foram ditas porque ainda não haviam sido criadas.
Como a luz das estrelas...
Filamentos luminosos que se expandem pela escuridão absoluta do universo e em algum momento criam o espírito.
Fios de um cordão de vitalidade e subsistência que geram a vida.
Energia primordial que alimenta a alma e que, por ausência de definição, abrange todas as falas e se traduz humanamente no sentimento mais próximo da Divindade... Limitadamente e precariamente chamado "amor".
A inalação essencial, o suspiro abrangente que dá sentido a tudo e se perde no caos porque simplesmente deixou de existir individualmente.
A luz, a chispa, a chuva, o perfume, a madeira, o fogo, o cristal, os ventos, a essência, os bosques e as tempestades.
E a razão da dor por igual.
Da perda. Do vazio. Da distância.
Mesmo encenada, imaginada, mesmo que inverídica...
Revivida eternamente, na intensidade de um único segundo.
A estrela oferecida, aquela de tantas idas e vindas, tem todas as grandezas.
O vinho é o mais raro.
Ainda que em muitos dias se torne amargo e seja servido no mais tosco copo de barro.
Portanto, jamais entenderia a permuta entre a riqueza e a crença na fala bravia do ego.
Talvez a mesquinharia da vaidade, o cansaço e a rotina fossem os senhores da razão
Mas, a beleza do céu noturno de estrelas, tal qual Nuit, não vem da aspereza dos gestos abruptos. Nem da voz irritada, nem no olhar vago que grita desesperadamente por descanso.
A ternura está na persistência.
O bem querer na esperança.
A fé, na própria fé de nunca abandonar a crença.
Quando se enxerga e se trata estes dons, as águas turvas e amargas de mesa de bar não têm qualquer valor.
Portanto, ele poderia chamar de qualquer coisa. Colocar qualquer som.
Mas, em hipótese alguma, em instante qualquer, deixar a tolice crescer a ponto de roubar a luz das estrelas.
E por fim, que falasse tudo, mas que jamais questionasse o tamanho deste tipo raro de Amor.