As Lojas
Surgiu lá, na mesa do boteco. Uma conversa depois de algumas taças geladas para aliviar a tensão e dar um colorido na rotina.
A primeira veio da ideia mais estapafúrdia de encontrar algo de útil no meio do refugo da cidade e quem sabe da natureza.
A odisseia para fazê-la ganhar corpo foi divertida, com um quê de importância em meio à escolha dos maquinários, acessórios, tintas e tantas outras tranqueiras que no final já não se sabia para o que servia.
Produziu algumas peças, resultou em muito trabalho, mas seu maior mérito com certeza foi fazer o homem, até então descrente de suas habilidades, criar arte dos descartes alheios.
A segunda permaneceu oculta. Uma ideia de mente única. Veio antes da primeira em pensamento, mas precisava da euforia e da aprovação daquela para tomar corpo e ganhar vida.
Entrou pela casa em caixas gigantes de papelão, trazendo informações até então desconhecidas e veio revestida do gosto de satisfazer um desejo, manter um sonho, desafiar a competência e exercitar a paciência.
A terceira acabou acontecendo como uma necessidade da segunda.
E então veio a quarta, cheia de intenções, linda de morrer, mas com pouco resultado.
E o que era para ser uma brincadeira, uma terapia de fim de dia e horas ociosas começou a ganhar forma e a consumir toda a energia.
Tinha seus méritos e seduções, é óbvio. A criatividade, a arte, os materiais nunca antes tocados, o desafio, o afeto recebido e o pior de tudo: o dinheiro.
A quinta e sexta vieram da empolgação de todas as outras.
E assim acabaram-se as finais de semana, as cochiladas da tarde, as noites tranquilas, férias, passeios, cinema, livros, vinhos, jantares.
Falta apenas uma para a comparação com os Sete Pecados Capitais. A exceção é que para elas, um deles invariavelmente fica de fora: A PREGUIÇA.
Socorro!