Lembrando da Avó
Ela separava a parte amarela da transparente do ovo. Num canto fazia uma nuvem branquinha e no outro criava uma gemada cheia de borbulhas suaves, só misturando açúcar. Eu permanecia ali, com o olhar vidrado na magia e com os pés tentando alcançar o chão. Depois ela juntava farinha, manteiga, as vezes chocolate ou corante, e despejava na forma preparada para receber a poção saborosa. Passava-se o tempo e logo saía do forno um bolo cheiroso, que nas mãos da minha avó transformava-se num prédio de andares recheados de gostosuras.
Foi numa casa comum, com forno a lenha e vidros de ingredientes frescos que descobri a feitiçaria que é cozinhar. Minha avó Selma era mestre em manipular os feitiços... Como eu, com minha alma imaginativa, não iria me apaixonar pela arte de despertar os sentidos?