Múltipla entrega
E o poeta chora,
Ao ver tantos pés de desesperança,
Nesse solo tão sangrento...
Chora por todas essas crianças,
Contaminadas antes do nascimento,
Pelo ódio, seu único testamento...
E o poeta chora,
Pelas mães dos presidiários,
Pois é duro, os seus calcários,
Pra elas eles são apenas, os seus filhos...
E o poeta chora, pelos velhos nos asilos,
Abandonados por quem eles deram a vida,
Mas o poeta nunca está de partida,
Mesmo triste, ele monta trincheiras,
Os seus canhões são a sua fala...
Vez por outra, a alegria lhe resvala,
Aliviando um pouco, esse peso que carrega,
Porque o poeta, é múltipla entrega,
Que se divide entre a cozinha e a sala.
Alque