Múltipla entrega

E o poeta chora,

Ao ver tantos pés de desesperança,

Nesse solo tão sangrento...

Chora por todas essas crianças,

Contaminadas antes do nascimento,

Pelo ódio, seu único testamento...

E o poeta chora,

Pelas mães dos presidiários,

Pois é duro, os seus calcários,

Pra elas eles são apenas, os seus filhos...

E o poeta chora, pelos velhos nos asilos,

Abandonados por quem eles deram a vida,

Mas o poeta nunca está de partida,

Mesmo triste, ele monta trincheiras,

Os seus canhões são a sua fala...

Vez por outra, a alegria lhe resvala,

Aliviando um pouco, esse peso que carrega,

Porque o poeta, é múltipla entrega,

Que se divide entre a cozinha e a sala.

Alque

Alque
Enviado por Alque em 16/01/2017
Código do texto: T5883946
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