Outra Frequência
Uma das principais acusações que recai sobre mim é a de ser frio e distante. Constantemente cobram de mim presença e demonstrações de afeto. A coisa se intensificou nessa era digital onde as redes sociais servem como uma espécie de termômetro de afeição. Compartilha-se posts carinhosos e fotos em datas comemorativas. Mas eu nada faço. Parei há tempo de postar e me importar com a vitrine virtual.
Sofro pressão de todos os lados. Amigos e familiares que me julgam antissocial e até mesmo insensível por causa de minha distância e ausência. Por outro lado, tenho a pressão de cuidar de dezenas de pessoas. Tenho de estar sempre pronto para atender suas necessidades e ai de mim se falhar em alguma delas. Esse cenário é no mínimo exaustivo.
Falho em observar datas comemorativas e eventos familiares. Assim como falho em me fazer presente em momentos especiais na vida daqueles que por mim são cuidados. Todos os dias carrego o fardo de estar sempre em falta. Se cubro um, descubro o outro. De qualquer maneira alguém sempre ficará desamparado por mim. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi que sumi ou que esqueci de determinada pessoa. Nessas horas não sei o que dizer, afinal, não consigo mesmo dar-me para todos o tempo todo.
Não julgo as pessoas por exigirem de mim. Sua exigência é legitima e mostra o quanto elas gostam de mim e querem minha presença. No entanto, se tem algo que estou descobrindo nesse processo é que se tem alguém que não posso esquecer esse alguém sou eu mesmo. Olho para trás e vejo quanta coisa deixei de fazer por me preocupar demais em satisfazer o outro. Percebo quantos lugares não visitei porque fui a outros lugares que nem queria ir, mas por causa dos outros eu fui...
Não sei quando é que me tornei alguém distante; só sei que desde minha adolescência sonho com a liberdade de ir e estar onde quiser. Boa parte desse meu jeito se deve ao fato do ambiente familiar mais prático e nada meloso. Nunca fomos de nos beijar e abraçar. Muito menos de cobrar a presença irrestrita de todos o tempo todo. Sei o que é amar, mas nada sei sobre afeições extravagantes. Talvez por isso eu seja tão julgado e criticado. Afinal, nem todos temos a mesma criação e a mesma vivencia.
Eu sei que seria mais fácil fazer como todo mundo faz, no entanto, eu vibro em outra frequência. Não a julgo certa ou errada, apenas, uma outra frequência. Assim sou eu. Este sou eu. Já desejei ser diferente? Diversas vezes. Entretanto, todas as vezes descubro que continuo sendo eu.