O Outro Lado da Lua
Eu gostava do novo.
E não apenas por ser algo inédito, mas por todas as sensações que causava.
O cheiro, as cores, as formas, a composição e obviamente as emoções.
E junto com o novo havia algo mais na busca: a beleza.
Gostava dela por inteiro. Em partes, me tirava um pouco do encanto. E justamente por ser rara, quando se apresentava integralmente e sem retoques eu a consumia, a aspirava, me embriagava.
Houve momentos em que a razão simplesmente ficou muda e pela beleza eu usei meus mais simplórios instintos... Como uma pessoa faminta diante de um banquete que não se repetiria por muito tempo.
Assim era a estrutura. Não importava se o novo vinha em forma de cidade, jantar, livro, pedra, flor ou pessoa.
Eu queria explorá-lo, beber dele, saber da sua história, por onde tinha passado, que olhos havia encantado, que planos inspiraram... E quando se tratava de gente a embriaguez vinha dobrada se eu me curvasse diante do belo. Há tanta riqueza na alma; mesmo que ela seja corrompida, doente, carente ou apenas mais uma na multidão.
Pessoas sempre trazem planos, sonhos, vivências, contam casos, expõem sorrisos, lágrimas, frustrações, banalidades, psicoses, fantasias, medos, traumas e alegrias, e é justamente por isso que são tão ricas e plenas. Às vezes de beleza, em outras de maldade.
Se por trás desta miscelânea espiritual e psicológica o invólucro viesse esteticamente acompanhado de algo natural e convincente, eu questionava a divindade em sua parcialidade já que havia dado tanto a alguns e tão pouco a outros.
E assim como uma sina, que a principio me estimulava a ter e saber tanto, eu passei a andar pelo mundo sempre a querer mais. Uma vampira sensorial que buscava cada detalhe, aspirava cada perfume, sorvia inebriada cada sabor e se deleitava com cada nuance.
Um espírito inquieto a buscar o silêncio das tempestades e as histórias ocultas no vento.
Uma criatura complexa pela simplicidade com que se encantava com as tolices escritas na história das rochas, dos olhos, dos movimentos das mãos e da chuva.
Um pouco solitária, outro tanto arisca. Fugindo de tempos em tempos para campos, montanhas e oceanos meticulosamente elaborados para aplacar a sede e ter respostas.
E neste mundo cheio das mais belas e dolorosas tormentas evolutivas, houve a necessidade de acomodar as regras, as leis e as exigências.
O novo e a beleza continuam me embriagando como sempre, mas confesso que há tanta genialidade na limitação que às vezes me pego pensando em inveja...