sobre a república
O livro " Os bestializados" do historiador José Murilo de Carvalho, trata da proclamação da república no Brasil. Fato que ocorreu sem a participação popular. Mas isso não é nenhuma novidade num país onde a população é historicamente excluída do processo político. Foi uma troca de mãos das elites. A elite escravocrata que dava sustentação a monarquia foi substituída pela oligarquia cafeeira que com o apoio do Exército e de setores liberais agrupados em torno do Partido Republicano implantam a república. Nesse contexto o exército teve papel crucial na manutenção do novo regime, com destaque para os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. O Brasil dava os primeiros passos para a industrialização e as cidades passavam a ter mais importância na vida do país. No ano anterior a implantação da república (1888) aboliu-se a escravidão, mas sem que houvesse preocupação com o destino dos afrodescendentes. A mão de obra livre e assalariada, que substituiu a escrava, vinda, sobretudo, da Europa era submetida à exploração nas lavouras de café. O Brasil era uma economia eminentemente agrário-exportadora e dependente das exportações de café (de certo modo até hoje somos uma economia eminentemente agrário-exportadora, é só ver os principais produtos de nossa pauta de exportação). No plano institucional as mudanças foram cosméticas. Adotou-se uma constituição republicana, mas sem que implicasse mudanças na ordem social, Mudou-se a bandeira, o hino, copiou-se o federalismo e o presidencialismo americano, sem a radicalidade do processo ocorrido na ex-colônia inglesa. Grande parte dos monarquistas de ontem tornaram-se republicanos da hora, mais por oportunismo do que por convicção. O livro mostra como a população do Rio de Janeiro assistia a movimentação do golpe que depôs D. Pedro II como se fosse uma parada militar, alheia a importância do acontecimento. A palavra República, em sua raiz etimológica significa coisa pública, ou governo de interesse público. O estado republicano no Brasil sempre esteve a serviço dos interesses privados em detrimento do interesse público. Uma distorção que vem da época do colonial passou pelo império e atravessa a República. Somos um país de privilégios, que o diga o foro privilegiado. Um estado generoso com os grupos que dele se assenhoram, sejam partidos, empresas, grupos de pressão, oligarquias, corporações, com concessões aqui e acolá ao populacho como bem ressaltou outro grande historiador Raymundo Faoro, em seu livro “Os donos do poder”.