um sonho 
 
 Depois de vertidas  algumas taças do sublime líquido e de algumas tragadas de ópio, adormeci na calçada da  Catedral de Santiago de Compostela. Em sono profundo  sonhei com coisas díspares:  apanhava coágulos de sangue  que corria em minhas veias, a beira de minha cama estava envolta em flores, tentava  alisar os cabelos de ramas de uma mulher hibrida que do nada me aparecia e me seduzia, ela  saía de um espelho embaçado pelos  sumários de consciências de toda  uma época, e tinha um candelabro flamejante em sua cabeça e me propunha enigmas , um homem cortado ao meio pela janela do meu pensamento me dizia que a velocidade do pensamento não é superior a velocidade das palavras. Uma mão segurava uma agulha e  enfiava no vermelho brilhante de minha garganta;  metáforas gigantes  me ameaçavam com suas formas  assustadoras, imaginava o aveludado de todos os desfalecimentos.   Acordei com a chuva que caía  fina  e intermitente sobre meu corpo. A ardósia celeste parecia ter um brilho opaco e a relva embalava a terram enquanto a lua se precipitava. Meu olhar se fixava ao mesmo tempo no desfile puxado por cavaleiros montados em seus corcéis brancos  e negros a galopar pelas ruas medievais, e a  ponta ogival da catedral tomada pelo limo.   Ao longe ouvia o som de uma guitarra flamenga com seus acordes que evocavam em mim mistérios, tempos distantes,  tudo ali era idílico  estranho, tudo estava envolto em fantasia e realidade, entre transeuntes, pierrôs, colombinas,  me maravilhava  numa  segunda feira de carnaval na Galícia.
 
Labareda
Enviado por Labareda em 24/10/2016
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T5801332
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