um sonho
Depois de vertidas algumas taças do sublime líquido e de algumas tragadas de ópio, adormeci na calçada da Catedral de Santiago de Compostela. Em sono profundo sonhei com coisas díspares: apanhava coágulos de sangue que corria em minhas veias, a beira de minha cama estava envolta em flores, tentava alisar os cabelos de ramas de uma mulher hibrida que do nada me aparecia e me seduzia, ela saía de um espelho embaçado pelos sumários de consciências de toda uma época, e tinha um candelabro flamejante em sua cabeça e me propunha enigmas , um homem cortado ao meio pela janela do meu pensamento me dizia que a velocidade do pensamento não é superior a velocidade das palavras. Uma mão segurava uma agulha e enfiava no vermelho brilhante de minha garganta; metáforas gigantes me ameaçavam com suas formas assustadoras, imaginava o aveludado de todos os desfalecimentos. Acordei com a chuva que caía fina e intermitente sobre meu corpo. A ardósia celeste parecia ter um brilho opaco e a relva embalava a terram enquanto a lua se precipitava. Meu olhar se fixava ao mesmo tempo no desfile puxado por cavaleiros montados em seus corcéis brancos e negros a galopar pelas ruas medievais, e a ponta ogival da catedral tomada pelo limo. Ao longe ouvia o som de uma guitarra flamenga com seus acordes que evocavam em mim mistérios, tempos distantes, tudo ali era idílico estranho, tudo estava envolto em fantasia e realidade, entre transeuntes, pierrôs, colombinas, me maravilhava numa segunda feira de carnaval na Galícia.