O Fim...
...de todas as coisas é um processo lento e doloroso. Começa com a corrosão: cada partícula que existe dentro do composto se desintegra, causando uma perda dolorosa no hospedeiro. Um buraco surge no peito e vai crescendo proporcionalmente à dor externa e às angústias. Vem uma pontada, duas, três, dez, quinhentas e logo parece que uma máquina de tatuar espanca seu coração com agulhas, até o sangue jorrar negro, porque a pigmentação se perdeu com a dor. É como se o sentimento de amar fosse expurgado feito um demônio. Você se sente tonto, desnorteado, perdido; seu mundo se fecha, o sol já não brilha e a lua é uma moeda enferrujada num céu banhado em óleo – as palavras falham, a garganta fecha e o silêncio cobre, como uma manta fria e espinhosa. O forro do cobertor pinica, mas o que coça são os sentimentos. Causam um incômodo que não te deixa pensar e nem agir.
Lágrimas são inVoluntárias. Brotam de uma nascente insecável. Afundam um caminho no rosto que parece eterno. Um sulco forte, como sinal de que um rio passou por ali e despejou todos os amores contidos durante os anos de cumplicidade. E de repente, nem a sua sombra faz mais parte de você. É a solidão que acompanha, como uma gripe; você nunca fica curado, apenas alivia os sintomas. Ela diz que sempre estará lá por você, não importa as intempéries. E a única opção é toma-la como uma amante – a confidente que tudo ouve sem falar. Não chora e nem ri. Está apenas ali, ao seu lado.
Seu estômago dói. As costelas doem. A barriga sente tanto frio que o topo do Everest vira brisa de verão. E você não quer mais nada do mundo. Você não quer mais nada de ninguém. E não quer mais nada nem de você mesmo. Quer apenas que o tempo congele, que o mundo entre em transe e a vida prossiga assim, estática.
Sem medos ou decepções. Sem amores perdido enquanto ainda existia amor. Sem a falta daquilo que não existe, ou das tentativas de fazer algo não mais tangível tornar-se real.
E então você decide o que quer:
Você quer sossego.
Você quer paz.
Você quer o antigo amor.
Você quer as brigas.
Você quer a oportunidade para se arrepender.
Você quer ser triste por ser feliz.
E, por fim,
você não sabe o que quer.