Roda
Há vezes em que só se sabe “que” e há vezes em que o “que”, ainda que se o saiba ou se o cogite, tem uma dimensão tamanha, a fazer do “por que” quase que sem “porque”. A gente se esmera em explicações (normalmente inúteis, normalmente não ouvidas) ou se desespera em obtê-las cabíveis (normalmente cumpridas, quase nunca espontâneas), sem que nada, absolutamente nada que faça os motivos, os nossos ou dos outros, figurarem diferentemente da cera de uma vela a se apagar. Tanto melhor que vento algum apague a chama, muito menos um sopro “salvador”. Não adianta, a vela (a cera!) continua ali, até que o fogo que há dentro de cada um a derreta inteiramente, custe o tempo (pessoal, particular, individual e intransferível) que custar, ainda que séculos hajam colecionados no coração. Aí, sim, e só então (normalmente no compasso da solidão, vagarosamente, eventualmente que seja, quando se está a sós consigo mesmo) nasce um novo tempo, o tempo de vindouros "ques", o tempo da depuração. Assim "encerram-se" as mágoas e nascem os perdões, assim "aquietam-se" as perdas e ressurge nosso brilho, E tudo recomeça, voltamos a perceber o frescor no amanhecer. Tudo, "magicamente", volta se movimentar, paulatinamente, no redondo percurso da vida, a roda volta a rodar. E é melhor que assim seja, ponto nenhum de roda nenhuma merece ou suporta ficar com o peso da roda toda todo sobre si para sempre; não é justo, e não é, parece, sequer necessário. Por que? Sei lá, só sei que é assim. Então, roda vida, roda, roda que eu quero rodar...