Quem tem medo do medo?

Qual é o peso da palavra medo? Sabe-se que há um componente deveras impenetrável no sumo do mais profundo sentido do vocábulo medo. Isso é inegável. Tanto é, que muita gente até mesmo sente medo de falar sobre o medo. Essa sensação, se é que podemos tomar esse caminho, funciona como um freio do ímpeto da vontade humana. Uma espécie de película invisível que nos separa entre a realidade segura e o desconhecido perigoso. Um algo que impede o ser de se manifestar na sua mais alta plenitude devido ao excesso de zelo e de precaução que a sociedade impõe, geralmente desde a mais tenra idade. Tem-se medo da queda que poderá produzir a dor física. Tem-se medo do escuro que apaga a luz. Tem-se medo de ficar sozinho, ainda que ficar acompanhado represente um perigo maior. Tem-se medo de mudar, mesmo que seja apenas mais uma dimensão diferente em que se possa sentir novos medos. Nunca se saberá o que virá logo a seguir. Faz parte do ser humano sentir medo. O medo transmite uma ideia, não muito segura, de que estamos melhores assim, do mesmo jeito, sem se machucar, com alta visão, ou mesmo acompanhados de pessoas que nos deixam ainda mais sozinhos. Temer é uma defesa. Um escudo contra a segurança e a arrogância na vitória prévia. Um sinal para que percebamos que somos destrutíveis, penetráveis, mutáveis e mortais. Não há dúvida de que se ataca a tribo ou a nação ao lado pelo desejo de aumentar o poder, mas também para continuar mantendo-o. Nesse caso, aquele velho bordão futebolístico, “o ataque é a melhor defesa”, não mente. Existe mesmo uma precaução em todo gesto de ofensa. Não justificável facilmente, claro. Mas há. Os que estudam, por exemplo, sentem medo de não saber, de não saber mais, de não saber o que é necessário, de não saber que ficar sem saber dá medo. Eu mesmo sinto um grande medo. Medo de não me encontrar. Medo de me achar agora. Medo de mudar. Medo de não poder mudar. Medo de não ser. Medo de não temer mais o não ser. Medo de temer. Medo de não sentir medo.

Helder S Rocha
Enviado por Helder S Rocha em 04/02/2016
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