Veio
Perguntava-se em que ponto da vida toda a inspiração se perdeu
Inspiração não, vontade
Inspiração tinha aos montes
Em cada lugar que olhava, lá estava a inspiração
Estava no banco que cambaleava
Na esquina que dobrava em um ângulo estranho
No olhar cabisbaixo da morena de tranças
Na flor que despontava daqueles loiros cabelos embaraçados
No tabuleiro de amendoins
Na tapeçaria pendurada no arame
Na volta do doce cheiro de seu cangote
Na rouquidão de sua voz
Na forma como ela o olhava
Na admiração que sentia
Na paciência que queria ter
Na fraqueza da voz
Na perda dela também
Na satisfação por poder ser sincera
Sinceridade?
Sinceridade é tudo
Em tudo que fazia, em tudo que faria
Em tudo que não sabia como colocar no papel
Em não conseguir escrever
Em não pensar em outra coisa além da inspiração...
Ação!