DEUS

Não sei como iniciarei esse texto e faço a mínima ideia de como irei terminá-lo, acredito que eu o deixarei em aberto. Apenas sinto que este tema grita em mim para ser escrito, só não sei se tenho força o suficiente para concebê-lo.

Houve tempo que eu o amei, mas também houve tempo que o odiei. Agora eu somente o sinto. Não. Eu não acredito naquele deus pregado nas igrejas, aquele deus de punição. Cresci sob ameaças, se eu não me comportasse, um certo deus criado pelos homens me castigaria e eu passaria o resto da eternidade queimando no inferno. Eu morria de medo disso sem perceber que a minha insegurança já era viver em um inferno. Todas as noites eu orava a Deus pedindo perdão por ser quem eu sou, ou apenas pedir perdão por existir. Embora eu me sentisse um pecador imundo e suplicasse por misericórdia, eu sentia que tudo era dito de maneira automática, não era do coração. Minha mãe dizia “Orações fracas não chegam ao céu”, pensando assim, a minha era tão fraca que não ultrapassava o teto da minha casa. Todos os dias a mesma coisa, era vazio, era algo feito sem consciência. Nenhuma resposta.

O tempo passou e achei indigno de amá-lo, então passei a negá-lo. Esse deus das igrejas passou a não existir para mim. Tornei-me apenas carne, sem espírito. O homem seria responsável por suas próprias escolhas e não haveria uma missão divina na Terra (para quê existir uma razão para viver?). Eu estava livre para pensar e agir do jeito que eu quisesse sem medo de punição. Isso foi um alívio enorme, o poder de decisão estava em minhas mãos. Sozinho, abracei o meu pecado.

De início foi bom não precisar agradecer por estar vivo, mas aos poucos percebi que não era tão simples negar quem eu era, precisava me apegar a algo, alguém. Depositei minha fé em outras pessoas, uma péssima escolha, pois o homem é repleto de defeitos e entregar a minha dor era uma tortura ainda maior, tanto para mim quanto para estes seres. Percebi que o meu fardo era muito pesado e não havia como eu aguentar sozinho.

Quando eu estava agonizando por minha dor, algo foi dito: “Eu sou Deus, eu estou dentro de você”. Foi aí que eu encontrei o verdadeiro Deus, ele estava dentro de mim o tempo inteiro e não em um céu imaginário. Percebi então que dentro de mim existe um Universo e que eu sou infinito. O meu Deus é poderoso, ele é refletido a cada piscar de olhos, quando eu quero me comunicar com ele, basta eu falar comigo mesmo. Aprendi que não sou pequeno diante de mim, eu sou a perfeição, eu sou a minha própria criação. Meu corpo é um templo de amor e misericórdia, não há razões para eu temer o que está dentro de mim. A vida corre pelas minhas veias, cada dia é um milagre acordar e existem novas possibilidades de existência. Desta forma eu renasci e passei a me aceitar, sou o celestial e o pecado ao mesmo tempo. Eu sou Deus, Deus sou eu.

Rafael Fernando Victor
Enviado por Rafael Fernando Victor em 13/12/2015
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