O QUE DIDI DIZ QUANDO DIZ "CUMA"?

Todo domingo, quando ouvia o trapalhão nordestino perguntando "cuma?", achava aquilo divertido e enigmático.

Eu era muito criança na época. Por isso, por incrível que pareça, levei um tempo a entender o que dizia o Didi, e muito mais tempo para deixar de combater as variações da língua e passar a apreciá-las.

Ao invés de só achar ridículo o "erro" do comediante, podemos abrir um dicionário e ver que "como" origina-se do latim quo modo, e que já se grafou "coma" e "quoma", em outros momentos da nossa língua, mostrando que a brincadeira não é assim tão gratuita.

Olhando para outras linguas também notamos o mesmo.

No romeno, língua românica, temos "cum de..." (Como é que...).

E em língua forra ou santome, crioulo do português em São Tomé e Príncipe, temos "cuma": Cuma bô sá ê, mina mum? (Como estás, meu filho? - do conto Solidão, de Albertino Bragança).

Não sei se o Renato Aragão buscava um efeito cômico explorando a fala de um contingente menosprezado socialmente, ou se fazia isso como um tributo afetivo ao seu povo, mas quando analisamos um pouco o que essas pessoas menos instruídas dizem, temos sempre uma lição de história da língua.

Alexandre Basso
Enviado por Alexandre Basso em 12/10/2015
Reeditado em 12/10/2015
Código do texto: T5412640
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