O QUE DIDI DIZ QUANDO DIZ "CUMA"?
Todo domingo, quando ouvia o trapalhão nordestino perguntando "cuma?", achava aquilo divertido e enigmático.
Eu era muito criança na época. Por isso, por incrível que pareça, levei um tempo a entender o que dizia o Didi, e muito mais tempo para deixar de combater as variações da língua e passar a apreciá-las.
Ao invés de só achar ridículo o "erro" do comediante, podemos abrir um dicionário e ver que "como" origina-se do latim quo modo, e que já se grafou "coma" e "quoma", em outros momentos da nossa língua, mostrando que a brincadeira não é assim tão gratuita.
Olhando para outras linguas também notamos o mesmo.
No romeno, língua românica, temos "cum de..." (Como é que...).
E em língua forra ou santome, crioulo do português em São Tomé e Príncipe, temos "cuma": Cuma bô sá ê, mina mum? (Como estás, meu filho? - do conto Solidão, de Albertino Bragança).
Não sei se o Renato Aragão buscava um efeito cômico explorando a fala de um contingente menosprezado socialmente, ou se fazia isso como um tributo afetivo ao seu povo, mas quando analisamos um pouco o que essas pessoas menos instruídas dizem, temos sempre uma lição de história da língua.