ORAÇÃO

Chove agora, o povo lá fora canta uma canção de amor, como lágrimas sentidas, gotas enroscam-se nas folhas voadoras, nas ramas caídas. Uma sinfonia afinada, repentina, construída pelo invisível maestro servidor da vida, para o poeta um inspirador de sonhos, para os ouvintes, apenas um instante eterno. As luzes se alternam com rajadas de sons, a catarse entre a natureza e a beleza do criador, um grito se ouve nas alturas, mas nem um gemido de dor, é uma oração agradecida, que costure, seque e desapareça para sempre a mais profunda ferida. Então siga a sinfonia, chuva, sol, seja a noite, seja de dia. Os tempos passam como sons ao vento, desafinações, acordes perdidos, o tempo passa enquanto passam as vidas arguidas pelo futuro; Qual tempo guardou pra realmente viver, qual tempo passou esperando guardar o que a morte deixa no passado...grande legado a chuva trás com o vento, uma sinfonia, um legado em forma de poesia e uma interrogação em forma de prece, que não perdoa, mas diz que esquece.

Já faz tempo que escrevi esse texto, diz respeito a briga de um amigo já falecido e sua sempre futura esposa, espero que assim seja lida por quem procura uma resposta há muito dada e nunca mais lembrada. O título não seria esse, mas achei conveniente ao momento.