Ponto.

Ao contrário da maioria das pessoas que conheço, não gosto de pôr reticências onde deveria haver um ponto final. Reticências são prolongações; aceitação do não término de diversas situações. É também a continuação; da esperança, dos sonhos, dos planos depositados em lugares e pessoas que já não podem ou não querem fazer parte da vida. E quem nunca chorou por amigos que partiram? Um amor que se foi? Quem nunca sofreu por uma interrupção brusca a qual a vida o fez passar? Faz parte do verbo viver. E só cabe a cada um aprender a conviver com essas imposições. Aprender a colocar um ponto.

E assim sou eu. Vivo colocando ponto em coisas que me doem e me desestimulam todos os dias, também em coisas que me fazem feliz. O tempo todo colocando ponto em um capítulo, em uma lembrança, em uma alegria. Que dor. Porque pôr um ponto final em algo também me remete a acreditar que não foi a vida que assim o fez, e sim eu, o outro, as coisas.

Vou dizer que não doi? Que não faz falta? Não tenho como mentir. E se a sinceridade faz parte de mim, eu vou dizer que ainda amo, e que talvez eu ame para sempre. Que coisa! A reticência é uma filha da puta, insiste em existir no texto, na vida.

Mas eis que surge a lembrança: Tem que pôr o ponto. É preciso. Mesmo que doa. Mesmo que parta o coração. Mesmo que faça o corpo inteiro sangrar. É preciso pôr um ponto todos os dias, e ponto.