Opções
Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim?
Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia e as mil pelejas naturais; herança do homem: Morrer para dormir... é uma consumação que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo, pois quando livres do tumulto da existência, no repouso da morte o sonho que tenhamos
devem fazer-nos hesitar.
Eis a suspeita que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo, o agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, toda a lancinação do mal-prezado amor, a insolência oficial, as dilações da lei, os doestos que dos nulos têm de suportar o mérito paciente, quem o sofreria, quando alcançasse a mais perfeita quitação com a ponta de um punhal?
Quem levaria fardos, gemendo e suando sob a vida fatigante, se o receio de alguma coisa após a morte, essa região desconhecida cujas raias jamais viajante algum atravessou de volta, não nos pusesse a voar para outros não sabidos?
O pensamento assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão com o tom pálido e enfermo da melancolia. E desde que nos prendam tais cogitações, empresas de alto escopo e que bem alto planam desviam-se de rumo e cessam até mesmo de se chamar ação.
Ser ou não ser, eis a minha questão... Criar um personagem a exemplo de Tartufo ou quem sabe de Monroe, a alimentar os desejos volúveis do mundo; ou manter firme a inquietação e o fogo que sempre definiram e guiaram os ventos por onde viajo com alegria?
A pimenta e seu fogo não foram feitos para todos, Há quem aprecia seu sabor exótico, mas há tantos outros que não a toleram. Na certeza, entretanto, é que se deixar de queimar, já não é pimenta.
Opção. Eis a questão.
Diante de deixar de Ser, viria sempre e primeiramente, o sacrifício dos jardins.