TEMPESTADE DE AREIA
Saúdo seus olhos negros, enquanto a areia escura invade meu dormitório hostil com móveis decorados de solidão e me lota de sensações experimentais alinhadas ao orgasmo das flores, que é superior ao orgasmo mineral e inferior ao animal. Adoeço de forma equivocada e atribuo dores a nossa tão lamentada ausência corporal. Desmarco compromissos, pois já não tolero mais as dunas emocionais, as praias impróprias para artistas e as tempestades de areia.
O lugar onde você me posicionou feito peça do seu xadrez literário já não é adequado. O ar é seco, a vegetação inexistente e o sufoco sempre evidente. O Xeque Mate está morto. Permaneço no escuro, no oculto da sua vida, sou sempre a sombra da sua luz, o feto recém abortado da sua fase de fertilidade, o ruído na comunicação e as partituras censuradas da melhor sinfonia jamais executada. Sou a brisa que vira vento e destrói tudo.