Depressão

Está frio, mas ainda ninguém percebeu; só percebem quando de azul fica vermelho o céu, e quando o sangue corre fraco mais frio que gelo.

Tarde demais. É sempre tarde demais que as pessoas notam tudo; é quando não há mais chance, não há mais tempo, não há mais ninguém, não há mais vida; aí a vontade se perde na exaustão e na fraqueza do nada haver.

Não há vontade, e nem coragem. Não há porque falar, ver, ouvir ou sorrir. Não há amigos, não há trabalho ou afazeres, não há vontades. Não há vontade até perceber o quão tudo se foi, mas não que haverá outra vez.

E que vá em paz de uma vez por todas o meu positivismo utópico, meu amor, aquele sorriso falso e tudo o que já foi meu; Que se perca no meio ao infinito de nada, universo de coisas que não são de ninguém, não onde nem como, não são nada, como eu nunca hei de ser mais.

Não hei de manter o vento em meus pulmões, os sonhos na mente ou a bagunça da emoção. Não hei também eu de manter palpitando no peito um coágulo pouco útil, um coração.