Vai tomar um ar
Usamos frequentemente essa expressão “Vai tomar um ar”, ou “Vou tomar um ar”, quando nos referimos, em geral, à um momento de relaxamento. Geralmente, quando sob pressão já não conseguimos pensar ou agir adequadamente, pensamos ser melhor respirar outros ares: saímos do escritório, damos um pulinho na lanchonete, caminhamos pelo jardim do prédio… seja lá o que for: buscamos tomar um ar. Percebo que, cada vez mais, as pessoas estão em busca desse “ar” para continuar suas vidas. Quem não toma ar corre o sério risco de mofar. Certa vez um amigo meu, vestido do palhaço Tot´s, contou-me que ao conversar com uma senhora internada perguntou se ela queria tomar um ar. De pronto a senhora respondeu que gostaria, mas ela não poderia sair da cama. Rapidamente ele pegou uma garrafa de água vazia, foi até a janela do quarto, encheu de ar, fechou a garrafa e deu para a senhora. “Agora você pode tomar um ar”, disse ele. Espontaneamente ela riu e mudou o clima (ou ar) do seu quarto hospitalar. É exatamente isso que deveria acontecer quando tomamos um ar. Quem não toma um ar, não areja e então mofa. Fica com cheiro de mofo de angústia, mofo de tristeza, mofo de traumas, mofo de medos, mofo de mofos… Seria bom se dentro da nossa cabeça existisse um palhaço Tot´s que colocasse ar dentro da garrafa e nos desse para tomar de vez em quando. Pois bem, esses palhaços existem por ai e aos montes. Podem estar em forma de um bom filme ao lado de quem a gente gosta, em forma de um passeio no parque, cafuné no fim do dia, conversa ao redor de uma mesa com café da tarde, uma visita ao psicoterapeuta, um passeio com o melhor amigo, o cuidado com o animal de estimação, uma tarde para se cuidar esteticamente, boa música para ouvir e mexer o esqueleto… São várias as formas, o importante é tomar um ar e arejar a alma.
Cari Silva.
Maio/2015