Jardim de sombras

Às vezes, o que queremos, o que desejamos, não condiz com o que deve ser, como deve ser. Ansiamos demais e criamos esperanças e ilusões de algo que sabemos que não podemos ter. Devemos desistir de tudo e seguir em frente, ou devemos simplesmente desistir? No fundo, sabemos que não fará diferença. Nada é ou será como antes.

Quando tudo parece dar errado, e você se vê sem alternativa, só então percebe que as coisas poderiam ser muito mais do que foram um dia e aquele desejo de ser feliz parece bobo. A vontade de seguir em frente deixa de existir. A esperança de que algo bom aconteça vai desaparecendo, com o tempo. Percebemos então, que só nos resta o desejo de ver a pessoa que amamos, feliz. Mesmo sabendo que isso nos mataria por dentro. E uma dor imensa cresce dentro do peito.

Percebendo todas essas cosias, notamos o quanto a vida é simples, frágil, e como é fácil acabar com tudo. Ver as palavras "Eu te amo" perderem o sentido, ver que o sentimento não é mais recíproco, machuca muito. Nunca quis tanto fechar os olhos e não abri-los mais. Perder o que mais se ama faz a vida perder o sentido. E então, me pego imaginando, por quanto tempo eu vou aguentar.

Ouço um chamado, uma voz que me leva à uma terra de encantos, para brincar em um jardim de sombras. É a minha zona de conforto, que me guia através da dor e da esperança. Fechar os olhos e imaginar estar novamente nesse mundo é o que acalma meu coração. Reconheço a voz, é aquela pessoa que eu ainda amo, e que, um dia, me fez sentir importante.

A chuva bate forte contra a janela, como se fosse um estranho indesejável. Mas não há perigo, nesta zona de conforto. Não tenho mais medo, por mais que os trovões explodam lá fora, e a luz dos raios ilumine meu rosto marcado por lágrimas. Só queria que soubesse que eu estarei aqui, esta noite. Mas algum dia você irá descobrir que a natureza é assim. A mesma chuva que nos atrai, cai sobre a terra e cria o belo mundo que você vê, pela manhã. Não tenho mais medo, pois percebo que as nuvens da tempestade, são apenas máscaras. E a luz das velas fará dos nossos sonhos, lembranças agradáveis.

Neste jardim de sombras, o vento faz de árvores, criaturas. De galhos, mãos, mas eles não são reais. Para que você saiba, eu já fui uma boa pessoa, ao menos tentei ser, para você. Tinha medo, até você chegar para secar as lágrimas e me confortar. Para trocar o medo, por doces sonhos e para me dar um beijo de boa noite. Agora que já não está mais aqui, percebo que esses dias me mostraram que a chuva é uma parte de como a vida segue. E neste frio e escuro lugar, eu vou esperar, até que meus olhos amedrontados se fechem.

Longe do seu mundo, as cores da vida se tornaram preto e branco. Mas, é hora de deixá-la ir. É hora de brincar nesse jardim de sombras. É hora de voltar para minha zona de conforto. Mas, saiba que de manhã, com um simples bom dia, tudo ficará bem. A tempestade terá ido embora e eu ainda estarei por aqui.