O que os ventos sempre disseram
Seus olhos que buscavam os cantos tentaram em vão esconder sua altivez.
Da mesma forma os sons que saíram de seus lábios.
A falsa timidez com que agiu por anos não esconderam sua força.
Nem os panos rotos com que cobriu seu corpo conseguiram ocultar sua beleza.
Você reuniu armas, estratégia, falas, máscaras, trejeitos, formas e palavras em vão.
Nada pode amenizar o seu poder nem a sua sina.
Os céus não se comovem, nem a terra ou nada sob ela.
Seu esforço por se manter invisível foi tão inútil quanto um sopro no vento.
Não há como mudar o seu metal, nem o nome de sua pedra, nem o gosto do seu olhar, a cor dos seus cabelos ou a espada que sai da sua boca.
Hoje vejo que tenta se desgastar com o tempo.
Uma metamorfose tola.
Adaptar-se ao papel, às cores, às formas, às histórias que pensou construir pelo tempo afora, uma ilusão.
O vento que atiça seus cabelos anda de mãos dados com o fogo que consome sua alma e sua lucidez.
Este é o preço de sua negação.
Pés descalços e rosto na chuva nunca foram gratuitos, você sabe. Você sempre viveu.
Há um preço no pão nosso de cada dia e outro na libertação.
Há uma estrada que leva ao sono de todas as noites e outra que leva até as estrelas.
União desta dualidade na voz que ecoa pelos séculos é no mínimo temerário.
Ísis Velada não é apenas uma simbologia.
Maga Vermelha, Guerreira de Marte, Sacerdotisa, Oráculo, Rainha da Noite...
Há sempre uma escolha... ainda que você viva outras tantas mil vidas.
Eis sua benção e sua maldição.