Enquanto as estrelas eram criadas
Quanto o mundo ainda dormia e as almas eram geradas, eu esperava.
Vi seus olhos sendo abertos e o sopro da vida entrar em seu espírito.
Vi suas mãos à espera da matéria que ainda não havia.
Conheci o sorriso que cantaria o coração que fora criado também de mim e seria tão meu.
Quando o mundo congelou e as folhas caíram, pacientemente aguardei.
Vi a terra e os céus em movimento,
A chuva se tingindo de fogo,
Os rios mudando de lugar.
E enquanto você ainda dormia entre as estrelas, esperei.
Vi seres serem formados, almas que vieram e foram e novamente tornaram a vir.
E sempre, no meio de tudo, eu esperava por você.
Um dia você veio. Olhou para mim com os olhos de eras e não se lembrou.
Minha alma sangrou até os céus e no meio da tempestade da solidão que se formava, abracei minha dor e voltei à minha espera.
Você voltaria. Era a certeza.
Os ventos sopraram, os raios cortaram os céus. O dia se fez noite e tantas noites viram o sol.
Por muitas vezes meus cabelos, já humanos, branquearam e meus olhos deixaram de ver.
Então, em uma tarde de sol ameno quando eu colhia da terra, você chegou.
Riu do meu rosto sujo e dos meus cabelos armados com poeira.
Tocou meu suor da lida e sem palavra buscou pelo meu cheiro.
Sem jeito, notei seu susto silencioso ao entender que voltava para casa.
Por muito tempo este foi nosso mundo.
Fogueira no chão, fogão de barro, luz de candeeiro. É a sua fala...
Um dia tudo mudou como sempre muda.
Uma porta se fecha na vida e outra vida se abre.
E mais uma vez você recomeçou seu caminho até mim e eu até você.
Outras tardes amarelas vieram e outras virão.
Algumas vezes seus olhos serão de reconhecimento, em outras, apenas de indagação.
Não importa.
Você sempre chega.
E quando você vier, em qualquer mundo ou em qualquer vida, eu sempre estarei aqui...
Esperando por você.