Espelho
Escolhi o vestido mais bonito, os sapatos mais caros, a bolsa mais cara. Dois batons diferentes, um por cima do outro, até o tom desejado surgir nos meus lábios. Joguei os cabelos para o lado, até o melhor perfil se desenhar. Achei-me bonita, como um dia me achou. Achei-me desejada, como um dia me desejou.
Meus olhos marejaram diante da cena patética refletida no espelho, num ego ferido pelas facas que sua boca disparou contra mim naquele dia.
Não pretendo julgar sua intenção, ou me resguardar para ataques futuros. Isso tudo é inevitável. Está em nossa natureza de enjoo do mundo, das coisas, dos outros.
No fundo eu só queria entender, ratificar que sou mesmo a grande culpada por isso.