Deveria ter...
Fico pensando como é interessante o que acontece nos finais. Final de ano, por exemplo, tendemos a refletir no que fizemos, nos planos colocados em prática, nos sonhos conquistados, nas metas atingidas. Refletimos também sobre tudo o que desejamos, as promessas para o novo ano. Penso que, o fim, é sempre uma oportunidade para planejar. Colocar no papel aquilo que deu certo e queremos repetir, mas também repensar os passos de acontecimentos que não deram tão certo assim.
Hoje, no entanto, me proponho a pensar no “deveria ter feito… deveria ter falado… deveria ter amado, deveria, deveria…”. Sinto que sofremos mais com as lembranças e saudades do que pensamos. Sofremos com saudade daquilo que quase nem aconteceu. Saudade de pessoas que pareciam não fazer tanta diferença na nossa vida. Saudade de momentos mal aproveitados. Saudade de olhar nos olhos, abraçar, ficar pertinho, sentir o cheiro, ser tocado e tocar. Saudade de gente. Sentimos saudade de gente! Isso mesmo: GENTE.
Estamos nos tornando pessoas “impessoadas”, se é que existe esse termo. Muito me preocupa o caminho no qual a humanidade está percorrendo. Eu sonho em ter filhos e constituir uma família, mas confesso que isso estremece o meu coração. Que mundo estamos construindo para os nossos filhos? Um mundo em que restará apenas os arrependimentos dos “deverias”? Pais tão ocupados em ganhar dinheiro e investir no currículo dos filhos, mas esquecem de investir amor, tempo de qualidade; esquecem de conhecer o caráter dos pequenos. Solteiros tão desesperados em satisfazer seus desejos que não se importam com o próximo: falam o que dá na cabeça (ou: escrevem o que querem no whats, no face, nas redes sociais); usam as pessoas para seu bem-estar, mas não percebem que isso só está tornando a suas vidas mais isoladas e tristes. Mulheres que se colocam como mercadorias nas vitrines dos seus faces. Homens que não valorizam sua posição de honra e exercem violência na fala e nas atitudes. Que mundo é esse? Está cada vez mais difícil encontrar relacionamentos limpos, transparentes e seguros. Que mundo é esse? Por isso está mais fácil permanecer nos relacionando através do celular e atrás da tela de um PC do que olho no olho? Para onde estamos indo? Será que realmente queremos chegar onde estamos chegando?
Minha reflexão hoje é para gerar, minimamente, um desejo no seu coração para ser mais humano. Abrace mais, beije, cheire, ligue, ouça a voz, diga que ama, não deixe ir embora, não desista do amor, quebre o orgulho, volte a falar, seja feliz, peça colo, dê colo, deixe uma carta, troque a conversa virtual por um olho no olho… Tente curtir a vida de uma forma mais gostosa. Assim, eu espero que não tenhamos tantos “deveria ter…” ao final de mais um fim, mas muitos “que bom que eu fiz…”.
Faça um 2015 mais humano.