SOBRE A DITADURA DO POLITICAMENTE CORRETO-roberta lessa
Quando se impõe, certamente não se conscientiza e sequer se realiza a construção da liberdade de escolha de cada indivíduo, por isso ando meio às avessas dessa ditadura do polticamente correto onde declaradamente tenho um discurso libertário, mas veladamente carrego impressões das mais reacionárias possíveis.
DEIXAR DE SER
Deixo de ser consciente quando em mim se ausenta o respeito
Deixo de ser respeitoso quando em mim se ausenta o conhecimento
Deixo de ser conhecedor quando em mim se ausenta a modéstia
Deixo de ser modesto quando em mim se ausenta a solidariedade
Deixo de ser solidário quando em mim se ausenta a honestidade
Deixo de ser honesto quando em mim se ausenta o comodismo
Deixo de ser comodista quando em mim se ausenta o desejo
DEIXAR PARA SER
Somos todos racistas ao discriminarmos todo povo que há em nós
Somos todos homofóbicos ao discriminarmos todo sexo que há e nós
Somos todos etnocêntricos ao discriminarmos toda etnia que há e nós
Somos todos xenofóbicos ao discriminarmos toda cultura que há em nós
Somos todos sexistas ao discriminarmos a sexualidade que há em nós
Somos todos transfóbicos ao discriminarmos a metamorfose que há e nós
Somos todos chauvinistas ao discriminarmos toda história que há em nós
DEIXAR EM SER
Dentro de nós há dualidades, fatalidade de nossa cultura miscigenada
Dentro de nós há complexidade, fatalidade de nossa cultura oxigenada
Dentro de nós há dubialidade, fatalidade de nossa cultura multifacetada
Dentro de nós há multiplicidade, fatalidade de nossa cultura herdade
Dentro de nós há temeridade, fatalidade de nossa cultura legada
Dentro de nós há excentricidade, fatalidade de nossa cultura deixada
Dentro de nós há pluralidade, fatalidade de nossa cultura abrasileirada
DEIXAR POR SER
Onde se fala contra o sexo é onde se teme a liberdade
Onde se fala contra o diferente é onde se teme a verdade
Onde se fala contra o ausente é onde se teme a vitalidade
Onde se fala contra o fraco é onde se teme a vontade
Onde se fala contra o deficiente é onde se teme a bondade
Onde se fala contra o plural é onde se teme a multilateralidade
Onde se fala contra o direito é onde se teme a igualdade
DEIXAR PORQUE SER
Deixo de ser ombridade quando me oponho à verdade
Deixo de ser verdade quando me oponho à bondade
Deixo de ser bondade quando me oponho à honestidade
Deixo de ser honestidade quando me oponho à igualdade
Deixo de ser igualdade quando me oponho à lealdade
Deixo de ser lealdade quando me oponho à vitalidade
Deixo de ser vitalidade quando me oponho à ombridade
DEIXAR ONDE SER
Sempre haverá imposição onde houver indisposição
Sempre haverá indisposição onde houver intensão
Sempre haverá intensão onde houver imposição
Sempre haverá imposição onde houver enganação
Sempre haverá enganação onde houver deliberação
Sempre haverá deliberação onde houver obliteração
Sempre haverá participação obliteração onde houver imposição
DEIXAR O SER
Deixe o ser livre ser e não será preciso impor conduta
Deixe o ser pensar ser e não será preciso repor labuta
Deixe o ser optar ser e não será preciso transpor disputa
Deixe o ser inventar ser e não será preciso contrapor minuta
Deixe o ser simples ser e não será preciso expor luta
Deixe o ser saber ser e não será preciso recompor bruta
Deixe o ser escolher ser e não será preciso dispor absoluta