fim do Fim
Começar pelo começo não é nada difícil, aliás, a maioria das pessoas faz assim. Agora, o inverso... parece coisa de louco, não é? Eu hein! Ser concebido no ventre da mãe, crescer lá dentro, nascer, chorar, cair, andar, falar, crescer aqui fora, errar, amadurecer, beijar, amar, namorar, sofrer, casar, sofrer de novo (vou até rir aqui para não chorar), ter filhos, sofrer de novo, adoecer, morrer... (três pontinhos, porque ainda não sei o que acontece depois dela, cada um acha uma coisa; seres humanos! Nunca entramos num consenso! Pra quê? Deus nos livre de consenso! Ops!). Pois é, tudo isso é normal, a cronologia da vida, coisa e tal. Não é nada ruim, só as partes ruins da vida que são mesmo. Pouca coisa, aliás, coisa pouca!
Findar do fim. Findar do fim? É, aí sim, dificuldade maior não há! Ter fim no seu próprio fim parece ser uma regra. Mas não é! Você já reparou que o nosso fim começa em nosso próprio começo? De certo que sim. Mas, mais ainda, já parou para pensar que aquilo que mais chamamos de vida (é isso mesmo! Isso aí que acabei de descrever no parágrafo anterior), na verdade, é o trajeto para o fim? É. Agora percebeste, não é? Não, não se assuste! Nem precisa. Acalmo você escrevendo aqui que o trajeto para o fim é a vida e que o fim, é a morte!!! Tá bom! Vou diminuir as exclamações (!!!), concordo com você de que elas assustam/dizem mais que as próprias palavras num texto escrito, assim como o olhar assusta/diz mais do que as palavras num texto falado! Ops! Me acostumarei aos poucos...
Findar do fim é muito difícil, ninguém finda do fim. Todo mundo finda é do começo, e começa a findar, talvez, até antes do começo. Ai! Devo estar variando! Afinal, esses dias, estou sentindo que a vida é mais morte do que vida. Deve ser o efeito dos dias vividos, ou melhor, trajetados pela morte (blá blá blá, eu sei que é estranho, mas eu quis usar essa palavra assim, acostume-se com isso, e você entendeu o significado. Que Bom!).
Tomei uma decisão, diante dessas tantas descobertas que compartilho com você.
Quero fazer o contrário.
Isso Mesmo!
Começar pelo fim. Afinal, é onde eu estou no momento. No fim. A palavra “recomeçar” aqui não cabe, porque não estou recomeçando e nem começando de novo, estou apenas alterando a ordem crono“lógica” das coisas. Não é um recomeço, simplesmente, porque eu não estou começando do começo. Estou começando do fim.
Então, inicio pelo meu fim. Como está sendo meu fim? Bem, como disse antes (disse? Ah sim, talvez nas entrelinhas, no implícito do texto, ou seja lá como queira chamar. Ou então, simplesmente não disse), meu fim está sendo vivido, mesmo que seja o trajeto do Fim (com maiúsculo, melhor do que falar morte, não?). Não tenho muitas habilidades com as palavras, não gosto de usá-las para falar disso, mesmo usando-as para esse fim agora, mas foi a única saída que encontrei para começar pelo fim (ou seria Fim?).
[Você deve estar irritado com esse tanto de parênteses, não é? Mas, afinal, a vida, digo, morte (ou melhor: Fim!), também não é cheia deles? Não se irrite! Continuando...]
Observo que o meu Fim começou quando minha mãe nem queria me ter. Eu sou fruto de uma vida que não era para ser vivida, consequência disso é que comecei a Findar muito cedo (não que isso seja necessariamente a causa para todos os começos de Fim). Mas, o Fim se firmou mesmo quando minha mãe resolveu me amar, aí ela me teve, aí comecei a Findar, de fato. Cumpri com todos os trajetos que devem ser percorridos pelo Fim, especialmente nas partes em que escrevi “sofrer” (escrevi essa palavra quatro vezes até agora, não que esse seja o número de sofrimentos pelo qual passei durante a vida, logicamente não), até porque eu acho que esse acontecimento importante da vida (o sofrer) é o que mais nos faz perceber que estamos é percorrendo um caminho de Fim, e não apenas vivendo. Isso é bom. Não?
Bem, quando comecei a Findar, trouxe muita alegria para as pessoas próximas a mim (não chamarei de família, pois não sei o que é, afinal, os conceitos sobre essa instituição vêm mudando bruscamente nestes últimos fins).
Prodígio, me chamavam assim. Comecei tudo cedo: a falar, trocar passos, escrever, ler (essas duas últimas são privilégios de pessoas prodígios, naquela época poucos podiam começar cedo e, quando começavam, era teclando ao invés de escrevendo e adivinhando, ao invés de lendo, até hoje nunca descobri o porquê. Tá! Descobri sim, mas você deve saber melhor do que eu, é você que está ai tentando adivinhar aonde quero chegar), aprendia tudo que me ensinavam, como consequência, entrei prodigamente na universidade, com tabus que nem eu sabia que eles me compunham. Namorei bastante (bastante para mim, porque para a época eu era um ser encalhado). Encontrei uma pessoa que me fizesse companhia. Tive filhos. Foram essas pessoas próximas que deixaram meu processo de Fim bem interessante, mas tão dolorido, nem sei porquê.
Elas alcançaram seu Fim mais cedo do que eu. Só nisso eu fiquei para trás. Queria ser prodígio em tudo. Falhei! E, por isso, sofri. E, por isso, desejei logo o meu Fim! E, falhei! Não acredito que escrevi tudo isso para falar que falhei, mas não quero continuar falhando. Vou atrás do meu fim, que é o Fim.
Só você sabe disso! Preste atenção!!! Queria começar do Fim para ter certeza que fui a última nisso, para ver se não deixei ninguém mais para trás, mas você está lendo isso, não é?! Falhei novamente!
Geralmente, o começo pelo Fim nos ajuda a descobrir qual era o nosso verdadeiro fim. O que fizemos para encerrá-lo? Fracassamos? Não, de certo que não. Você fracassou. Ficou aí por último lendo essa besteira existencial (fracassada ainda por cima), perdendo seu tempo tentando raciocinar o que você já sabia desde o princípio. Fracassou! Você fracassou! Seu Fim não encerrou com seu fim! Enquanto eu exclamava o trajeto do Fim na minha vida, você ficou aí reclamando desse meu papo sem fim.
Bom, meu Fim já chegou. Já vou. Não estou me despedindo, só estou te avisando. Já me despedi demais nesse percurso. Já contei para você coisa demais. Coisas que, bem sinceramente, você deveria ter descoberto sozinho, mas sua curiosidade é maior do que sua vontade de continuar vivendo, que resolveu Findar junto comigo. E, pior do que eu, sem ter encerrado seus fins. Não fico triste por você. Alegro-me!
Agora larga esse pedaço de papel (ou essa tela luminosa, como preferir, mas, hoje em dia, você deve preferir a segunda, estou certa?) e venha comigo!
Escrito em 28/11/14.