A Viagem
No silêncio do meu quarto me peguei pensando, analisando, observando, detalhe por detalhe do meu corpo físico.
Minhas mãos, meu rosto, meus cabelos, minha pele...
Tudo em mim são linhas...Linhas de uma história que escrevi, que vivi, que senti...E mudanças...Nossa! Quantas mudanças ocorreram... Tantas que chego a pensar ser impossível retratá-las em palavras. A maioria perfuraram a barreira da minha matéria e alcançaram vôos além fronteiras.
Marcaram minha alma, mexeram com meus pensamentos e povoaram meu ser com dúvidas,medos....
Meus pensamentos tomam forma de viagem e vão percorrendo caminhos indeléveis, inapagáveis.
No franzido da minha pele, em minhas rugas aparentes, percebo o quanto caminhei, por quantos caminhos diferentes eu passei. Quantos meus olhos viram, quanto meus ouvidos ouviram...
Cada linha, cada marca, cada cicatriz no meu corpo, retratam lutas, perdas, vitórias, recomeços, idas e vindas.
Nem sempre isso tudo era relevante, na verdade era imperceptível aos meus olhos, cobertos por incontáveis viseiras, que foram surgindo ao longo dos anos.
Só hoje, com a chegada da maturidade, eu tenho plena consciência do tanto que absorvi, do tanto que desperdicei e do muito que ainda tenho pela frente. Hoje eu sei definir e entender claramente que a vida é um eterno aprendizado, que a vida é um quadro inacabado. E que os traços que o meu corpo revelam ao mundo, são as escolhas que faço. Cada escolha é uma cor.
A sabedoria que emana das minhas experiências vividas até hoje, é escolher pintar o quadro da minha vida bem colorido. Usar o azul das amizades calmas, serenas e sinceras. Amizades que sejam frutos de sentimentos de simpatia recíproca. O azul como o céu. O azul como a própria expressão da felicidade.
Pincelar uns traços de vermelho paixão. Essa bem querência que afeta o nosso ser nos levando a levitar, a sonhar, a desejar o outro com sofreguidão, com um apetite desmedido, quase irracional.
Contornar a vida com o amarelo ouro, que nos remete aos amores fraternais. Aos carinhos, a dedicação, a doação mútua entre os que compõem a célula mater da sociedade. Laços que unem a família, nós que seguem pela eternidade à fora, capacitando os seres a viverem em comunhão.
O quadro da vida não pode ser preto e branco. Sombrio ou desbotado.
Com a maturidade veio-me mais sabedoria e com ela um latão de tinta branca.
Ah!...Essa cor...Realça cada ruga do meu corpo. Cada sulco, cada dobra, cada prega do meu exterior e do meu interior.
O branco é a luz que clareia a minha estrada.A fé que permeia os meus pensamentos, meus pés, meus lábios, todo o meu ser. É a paz que necessito. É a minha busca incessante.
Em cada fagulha de mim existe uma presença, que se faz sempre presente dentro e fora de mim. O branco divinamente divino. O branco de Deus.
No silêncio do meu quarto, eu fui para onde Deus quis. Fui na sua inspiração sem perceber o passar do tempo. Foi uma viagem continuada, persistente por mil e um pensamentos.
Quando me coloco a escrever é assim. O mundo parece abrir-se. Desnudar-se diante de mim, e perco-me em mim mesma, nesse imenso mundo que esta grafitado por Deus Nosso Senhor em meu Ser indelével... Perene... Eterno...