Sou como um livro.
Eu sou como um livro. Há quem me interprete pela capa. Há quem me ame apenas por ela. Há quem viaje em mim. Há quem viaje comigo. Há quem não me entenda. Há quem nunca tentou. Há quem sempre quis me ler. Há quem nunca se interessou. Há quem leu e não gostou. Há quem leu... e se apaixonou. Há quem apenas busca em mim palavras de consolo. Há quem só perceba teoria e objetividade. Mas, tal como um livro, sempre trago algo de único: o melhor de mim.
Na verdade, sou como um livro que se oferece para ser guardado ou lido, e relembrado.Como um livro, sou um tanto ousado. Fico atento a cada olhar que me despe com expressões distintas: sinto-me provocador, sem me sentir pecador, um invasor dos vãos mais íntimos de um leitor que me tem nas mãos. E calado, compartilho seus dramas, alegrias, frustrações, seu ego, seus sonhos...
É. Sou mesmo como um livro. Ora sonhado por quem me lê, ouve ou vê; ora um eteno sonhador apaixonado. Enfim, preciso me sentir assim para acreditar que um livro - ou vários - desnudam um pouco de mim.
Outono, 2000.