• FRAGMENTOS DO CORAÇÃO: DESPERTADO

Acordo com os dedos entrelaçados aos dedos dela, que segura minha mão sobre o abdômen, sinto o perfume dos cabelos dela, e o calor do corpo, olho pela janela, e ainda é madrugada. E penso que ainda que não estará na noite seguinte, ter o corpo dela assim próximo, causa uma sensação inexplicável em mim.

Tento não mexer, para que não desperte, mas talvez também esteja acordada, ou tenha o sono leve, e tenha despertado, com a mudança de minha respiração. Encosta o corpo mais em minha pele, e vira ficando de frente para mim, deita entre meus braços, de olhos fechados.

Admito que tem o rosto mais bonito que conheci, e aquele olhar, agora escondido sob a sonolência, possui um brilho único, um brilho misterioso e raro, que sempre causou um encantamento em mim. Tento não sorrir, mas não consigo, e beijo a testa dela, querendo que não acorde. Ou não querendo acordar, para que não descubra que é apenas um sonho, ou que descubra, após a próxima noite, não poderei descobrir o sorriso dela ao abrir os olhos, após uma noite de sono.

Fico olhando para o rosto dela, e caso seja um sonho, não quero acordar mais. Não quero acordar, e não descobrir o cheiro dela nos lençóis e no travesseiro. Ou descobrir o lado da cama vazio, as roupas dela espalhadas pelo quarto, as coisas dela espalhadas pela casa. Não quero ter que acordar, e não sorrir, ao ver o sorriso dela, ou ficar observando o corpo dela deslizando pelo quarto, diante do espelho, em meio a penumbra. Acaricio os cabelos dela, e sinto que poderia fazer isso durante toda noite, toda semana, por todo um fim de semana, apenas para descobrir aquele sorriso nos lábios dela. Um sorriso, que causava uma felicidade irresistível e intensa. Uma felicidade que queria partilhar com ela em todo momento.

Agora acordado, e não podendo dormir mais, ficava zelando pelo sono dela, cuidando para que nenhum pesadelo ficasse próximo, ou que pudesse dormir tranquilamente junto de mim, e acordar sorrindo, por dormir bem durante uma noite inteira.

Agora acordado, sentia a respiração dela em meu pescoço, deslizando a ponta dos dedos sobre a pele dela, que permanecia quieta, embora quisesse que estivesse acordada para que pudesse dizer, e admitir, que não queria que aquela noite terminasse quando o dia brilhasse do lado de fora do quarto, que para mim, agora era meu conto de fadas em particular, onde a donzela em perigo, encontrava refugio nos braços do vilão, ainda que o mocinho, algum dia poderia vir em seu resgate. Agora acordado, fico olhando para aquele rosto sereno, o corpo em estado de calmaria, mesmo que soubesse que era intensa demais para caber em minhas mãos, para ficar depois daquela noite.

E fico acordado, ate o dia amanhecer, e tudo fica confuso quando abre os olhos, e confundo o brilho do sol com o brilho dos olhos dela, confundo o aroma da pele dela com aquele aroma doce trazido pela brisa em noite de lua cheia. Fico feliz, por ver o sorriso dela, mesmo que seja por uma única vez, ainda que queira acordar ao dela outras tantas vezes. Fico feliz, porque hoje não será mais um dia, não é um dia comum, porque irei lembrar do sorriso dela sempre. Irei lembrar dela, sempre.

E irei lembrar dela, com aquele sorriso esculpido nos lábios, e o brilho nos olhos. Iria sonhar, com aquele perfume, e acordar, e descobrir o lado da cama vazio, mas meu coração não estaria vazio, porque estaria ocupado por aquele alguém, que foi embora, mas nunca foi embora de verdade, porque ficou em mim, presente no coração.

* Alexandre

DAMIEN LOCKHEART
Enviado por DAMIEN LOCKHEART em 09/08/2014
Reeditado em 21/10/2014
Código do texto: T4916468
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