Aforismo sobre a humilhação da raça humana
Havendo o neocórtex do Homo sapiens se inflado, não demorou para que os primatas, cansados de desperdiçar os seus dias em buscas por alimento e conflitos com rivais, pusessem-se a compor sinfonias, escrever sonetos e elaborar sistemas filosóficos metafísicos. Tornou-se, então, evidente que estes logo sucumbiriam à soberba, embriagados pela sua aparente superioridade às milhões de espécies que se contentavam em levar uma existência medíocre. Fazia-se necessário rebaixar os novos Narcisos, enojar-lhes com a sua imagem refletida no espelho do lago. A libido foi, então, criada pela sapientíssima Natureza para exercer tal função. A libido não é nada além do atavismo das espécies torpes e abjetas retumbando em cada fibra nervosa, tornando o homem uma marionete nas mãos daquilo que ele mais desprezava. O sexo ri das ilusões do livre-arbítrio, da razão, da objetividade, que tanto encantavam os iluministas em suas perucas charmosas. Ele se deleita em observar o homem, que agora sacrificaria a sua política, a sua ciência, a sua arte em um grande altar a Eros, se com isso pudesse enfiar seus genitais nos genitais de outrem, ou sua língua em seus genitais, ou seus genitais em seu ânus. Caso encontre algum obstáculo que o impeça de cumprir os ditames de seu desejo, se bate contra ele como um animal contra as grades de sua jaula. Após o gozo, envergonha-se com a visão de sua própria bestialidade, lambuzado em suas imundícies. O sexo é, portanto, a humilhação da raça humana, tão necessária quanto inebriante.