Por eu mesma

"Vai ficar tudo bem", eu continuo repetindo isso para mim mesma. Mas sabe, e se não for verdade? E se eu estiver errada e apenas me enganando, deixando o tempo e as minhas forças irem embora enquanto meu mundo desaba bem na frente dos meus olhos? Esse é o meu medo. Medo de perder a chance, perder as pessoas, me perder assim, de um jeito tão estúpido. Já tentei, já sofri e já mudei, fiz de tudo para ser outra face, outro lado de mim, agradá-los, agradar o que eu pensava querer de mim mesma, e nada disso funcionou. Eu continuo aqui, presa. Presa em mim, no que acho que quero, me forço a conseguir, me torturo para acreditar, deixar minhas crendices bobas de criança, minhas vontades despretensiosas. E não tem como, não tem como eu ser essa minha ideia, utopia de pessoa. Eu sou isso, isso que vejo, sinto, toco e aturo dia após dia, mesmo que não goste e lute contra. É exaustivo isso de sempre ser contra si mesma, a própria natureza, o instinto básico do seu ser. Talvez eu não precise, afinal de contas, ser fantástica, genial, admirável. Talvez não tenha problema em ser errada, torta, perdida, parada, devastada no que penso, no que sinto. Quem sabe alguém possa até me ver assim de verdade e ficar por aqui por um tempo, já que eu sou a única que aguenta, que carrega esse fardo, esse peso de quem sou. Talvez a minha última imagem verdadeira possa ter algo a oferecer, mesmo que simples e causal, algo belo. Simploriamente belo, pronto! Mas é difícil largar as ilusões, as fantasias assim, a gente sempre acha que por mais que o hoje esteja cinzento, o amanhã virá com uma paleta de cores infinitas para escolhermos. Só que no meu caso não, comigo eu já tive minha vez, minha hora de forjar e ser a cor, o semblante que eu quisesse: agora só me resta aceitar, ser aquilo que encontrar de imediato no espelho e ir em frente, por mais que me desagrade. Se eu der sorte, posso até achar conforto e quem dirá, esperança em agradar alguém sem intenção, algum passante que só me veja pela janela e dê-me atenção, como eu já quis que acontecesse milhares e milhares de vezes. Vai que o gosto, e ouso dizer, o amor de outra pessoa possa cultivar algo aqui, fazer-me ser de uma vez por todas o que nunca consegui por mim mesma, ser humana.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 01/05/2014
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