REMINISCÊNCIAS DE UM BOÊMIO

A tarde cai lentamente, o arrebol ao longe delineia um clarão avermelhado, como se o universo quisesse compartilhar em

pensamento, a imensidão da folia dessa maravilha.

Sinto-me com o dever de espairecer minhas ideias com meu companheiro de andança, pois não abre a boca pra dizer uma só

Palavra, mas entende o que falo e presta uma enorme atenção.

Me torno corriqueiro comigo mesmo, tento corrigir meu modo de ser, atendendo meu impulso de sempre fugir do real.

Falo com todos: arvores, borboletas, animais silvestres e com meu companheiro de andança. Esse palco é propicio para mim

descrever com meus cotovelos algumas das desavenças que obtive com o decorrer dos anos.

- Não gosto de gente fresca, cheia de tititi, principalmente os que são sem ter.

- Lembra daquela mulher que me deixou cabreiro?...-acho que não, você nem era nascido.

- Conheci-a num barzinho fuleiro, onde meu amigo alemão nordestino cantava. Deveria estar com umas 10 doses de uísque na

cachola, pois mal me aguentava em pé. Naquele momento ela era a mulher mais linda do mundo, pois bêbado enxerga em

dobro. Só me lembro que dançamos e logo saímos dali, acho que fomos comer pizza. No outro dia de manhã, ao acordar, olho do

lado e me assusto, "pense numa mulher feia", uma verdadeira baranga despenteada, fiquei imaginando como aquilo foi parar do

meu lado. No entanto com o passar do tempo, nos tornamos grandes amigos, sem tocar no assunto daquela noite. Muitas vezes

a simpatia sobrepõe à beleza física.

- Companheiro, já que você não diz nada e ainda está prestando atenção.

Acredite no que te digo, o ser humano chegou por aqui prontinho da silva, pode ser que houve evolução da matéria circundante ao

ser, mas o ser propriamente dito não evoluiu em nada, desde de seu advento continua com 15 metros de tripa.

- Bem...voltando às probabilidades consequentes da vida, certa vez conheci uma mulher, cujo dom que a norteava era a arte de

pintar unhas. Novamente bêbado que nem uma vaca, encontrei-a num sábado a tarde, e sem muita conversa fomos para seu

cafofo. Pós ter conseguido meu intento e acordar, descubro a besteira que fiz. A dita cuja gamou no guri, pois em dezesseis anos de

casada, nunca tinha sentido um orgasmo....”pense numa mulher gamada”...vixe...tive que me esconder durante um bom tempo,

pois ela era capaz de tudo. Então quando você encontrar alguém, e esse alguém mexer com sua sensibilidade, verifique bem se

você está sóbrio o suficiente para seguir com uma aproximação mais íntima, pra não cair do cavalo.

Companheiro...vamos parar por aqui, pois está um ventinho gelado e um cafezinho será bom demais, antes de assistirmos a

Novela e depois dormir. Ficamos a merce das reminiscências de um boêmio, pois o regaço que fica é maior do que o ideal.