Sobrevivência sem sentido
Há momentos em que por mais forte que você tente ser, tanto mais esforço pra suportar cada dia, mais fraco você vai ficando. O desânimo lhe consome por completo. A cada tombo a vontade de fazer as coisas perde a metade do interesse, e quando se conquista alguma coisa logo somos impulsionados a desejar de novo, criando todo o mesmo processo de luta porque o que obtemos é somente uma satisfação passageira, pois a natureza humana é por essência desejosa das coisas que não se tem; e neste processo, algumas pessoas entendem como é vazia e sem sentido a vida. Uma ilusão. Tão terrível sobrevivência que só nos desanima, nos faz querer desistir e acelerar um processo do qual já estamos todos sujeitos. Não é a vida em si que me desanima, e sim essa rotina da qual estamos todos presos, a sobrevivência por ela. Sinto-me preso dentro da vida. Lutamos por uma sobrevivência sem sentido, derramando nosso sangue em lutas diárias que só nos desgastam. Mas para quê?
Viver em prol de ínfimos momentos de felicidade que passam por nós como se nunca tivessem existido, pois tamanho é o esfalfar de nossas vidas que isto ofusca a alegria que temos, como se fossemos masoquistas, machucando a nós mesmos em prol de prazeres que, se comparado com o sofrimento que o mundo nos causa, são como partículas daquilo que seria um universo inteiro de dor.
Não sentimos a ausência da felicidade, somente a nostalgia que ela nos causa, e entendemos que a dor consiste essencialmente na alegria quando revivemos lembranças de um tempo distante. A dor parecer ser a única coisa positiva nesta vida, positiva no sentido de que quando ela passa, ainda continuamos a sentir as cicatrizes que ela nos deixa.
Fazemos planos para o futuro como desculpa para suportarmos um presente que, ironicamente, era o futuro de ontem. Não há futuro, somente um presente do qual sempre iremos querer fugir. Seguimos empurrando a sobrevivência na intenção de que aquele que suportar todos os males até o fim, a vida será generosa, por assim dizer, para com quem a suportá-la. Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuamos a correr sem desânimo atrás da tão sonhada felicidade na convicção de que o mundo acabará por se mostrar generoso para quem correr sem desânimo, e quando por fim, descobrimos que o labirinto só aparentemente tende para o ponto que evitamos enxergar o tempo todo, a ilusão. Descobrimos que gastamos nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inútil, mas é muito tarde para recuarmos. Por isso não é de se espantar que os mais lúcidos saiam de cena mais cedo deste teatro que é a vida. Se dissermos que se trata de uma ação imoral e egoísta, não devemos esquecer que a imoralidade de um homem não poderá, nunca, competir com o maléfico da ordem da vida...
"Viver é corre atrás do próprio rabo sem nunca poder alcançá-lo. Viver é não ter escolha.