Os últimos raios de sol
Observando o crepúsculo que anuncia a escuridão, escuto os corvos que grasnam em comunhão com a desatinação, prenunciando o augúrio da desgraça cotidiana, de mais uma noite afogado em agonias da mente. Os últimos raios de sol são engolidos pela escuridão vivaz, e vejo-me sendo apagado pelo negrume da noite silenciosa. O vento sopra gélido, lamuriando uma canção fúnebre em meus ouvidos, eriçando as penugens do corpo e, simbolicamente, soprando a vela da vida que ainda queima em meu âmago. A luz se apaga e só o que vejo é trevas; sem corpo, sem alma, apenas uma substância que pensa perturbadamente sobre as lástimas da vida, envolto pela imaterialidade da escuridão.
O desejo de buscar a estrada menos percorrida, impulsiona a sofreguidão pelo momento de minha partida, misturando sentimentos de incerteza, junto à tristeza que consome a mente por pensar naqueles que em mim tanto confiam. A morte brilha sua luz desconhecida no horizonte, e a vejo como um anjo que um dia há de me acalentar em seus braços no mundo da inexistência. Aqui na escuridão eu me deito, e vejo passar a vida a que todos as pessoas se deleitam, sorrindo ironicamente pela minha desgraça, pois sou apenas um homem quebrado, cuja a alma busca apenas o descanso o qual repousa silenciosamente todas as almas que já foram levadas pela morte.