Cismas Filosóficas

A madrugada se estende silenciosa, fria, solitária, enquanto divago pelos labirintos sórdidos e rutilantes de meu estado embrionário de ser. Imperfeição dotada de incompletude existencial, limitado ao pequeno espaço destas quatros paredes que é corpo material, agarro-me aos recônditos mistérios da imensidão da consciência e me perco no vazio existencial a que todas as coisas se reduzem. Isolando-me do mundo exterior, passo a nadar rumo ao útero fecundo das coisas viventes, este nada misterioso que é o interior do ser que observa a unidade mística a que todo universo se conecta panteisticamente.

Uma fina chuva, tocando a janela de meu quarto, faz com que eu abra os olhos para o mundo dos fenômenos das coisas materiais. Escuto com volúpia as sutis gostas que caem das nuvens poluídas e fico a contemplar uma das mais belas sinfonias da natureza. Novamente sou tomado pelo desejo gritante, perturbador, de entender a profundidade das coisas existentes, frustrando-me na limitação lânguida da mente, perturbado pelo maldito instinto racional de ser pensante. Forço meu conhecimento em busca das respostas para entender um mundo que não é o que nos representa ser. A vacuidade dos átomos sustentando a matéria densa que salta de nossos olhos, formando um universo tão magnifico somente tendo como base a ausência de matéria. Fazer perguntas não adianta; conhecimento apenas me frustra por saber que quanto mais sei mais percebo que nada sei; observar sem questionar já não posso mais… Se posso dizeres que aprendi algo nesta vida maluca em que passo todos os meus dias, é que não existe certeza além da dúvida.

Condenado e glorificado pelo desejo poético e filosófico de entender a vida, a vivacidade nas camadas mais profunda das experiências já vividas fazem de mim um dos poucos ser que foi além da superficialidade da vida, deparando-se com experiências que me levaram a compreensões da insanidade e a dádiva de existir, e experimentar a oportunidade de viver o instante intensamente como se estivesse observando-o pelos olhos da eternidade..

Em cismas filosóficas afogo mentalmente os olhos no incognoscível mundo das ideias, tentando compreender a vida fenomênicas das formas ilusórias que nos enganam os olhos na solidez da matéria densa sustentada pelo vazio dos átomos que nos formam. Percebo que o mundo é uma ilusão que não me revela sua verdadeira face, e vejo somente a limitação de minha mente que reflete no mundo o materialismo que me cerca. Sinto que a imensidão da consciência transcende as coisas que olhos veem, pois a existência, de certa forma, converge somente para mim, e a existência de tudo aquilo que há, é somente válida para mim enquanto minha consciência estiver aqui para tê-la como minha representação…

São 5h21 da manhã, os olhos estão pesados e a cabeça cheia de pensamentos confusos e quebrados. As palavras começam a fugir de mim, talvez querendo repousarem no silêncio do sono; irei dormir, e quem sabe talvez, despertar nas realidades oníricas e imateriais do mundo dos sonhos, onde também sou iludido pelos fantasmas da matéria, nunca percebendo que tudo faz parte de minha consciência, e nada existindo além de mim…

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 06/09/2013
Reeditado em 06/09/2013
Código do texto: T4469082
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