Dois Passos
Sente o vento se entregando ao momento
A oportunidade única de sonhar acordado
De estar perdido sem se querer achar
Precisa desse segundo
Como a formiga precisa das folhas caídas
E a árvore da chuva de verão
Recosta-se confortavelmente na cadeira de pedra
Pois já preparou sua cama
Com vidros quebrados para se deitar
Sua maleta de desejos está vazia na cadeira
No papel desenha linhas perdidas
Que não fazem nenhum sentido aos olhos
E as palavras não saem, estão trancadas
Dificultando o final daquela frase
Com mais dois passos já percorreu sozinho o mundo
Atropelando todos os sentidos
Como se já não precisasse mais deles pra sentir
E até no piscar necessita se concentrar no tempo
A cada mundo construído
Outra história é conta contada
Sem saber qual foi o final da última
Como um círculo vicioso
Da repetição constante da vida
Diferente da serpente que mordeu o próprio rabo
Muda a direção em busca de um atalho
Que o leve na direção oposta