Senhor do Tempo
Ouça “Senhor do Tempo” que tanto tento matar. Tu me destes alegria e lágrimas. Não peço que escolha um lado ainda, mas peço que me devolva o que me tirou de mais valioso. Devolva-me um ser, aquele pelo qual eu rastejei antes mesmo de aprender a andar. Aquele que me fez descer de meu pedestal para lhe acariciar a face. Devolva-me os olhos vermelhos devido às noites mal dormidas, as lágrimas que já se secaram e os dedos gelados que acompanhavam as tremedeiras, que dos pés chegavam até os dentes. Eu caminhei algum tempo sem olhar para onde ia, apenas confiando em ti. E onde me largou? Aos lobos em meus mais terríveis pesadelos. De cabeça baixa com os olhos fitando apenas os joelhos sujos e sagrando de um tempo em que eu acreditava. Percebo que não doem mais, mas mostram aos que olharem para onde meus olhos se direcionam, que um dia eu fui tolo. Doce passagem silenciosa que não lhe escapam nem os imortais. Estou agora aos teus olhos cegos. Me leve a onde não levou ninguém. Conte-me histórias das quais tem medo. Deixe-me repousar em tuas pernas e tocar os teus dedos dos pés enquanto acaricia os meus cabelos. O teu silêncio hoje guia a minha razão… A mesma que um dia me levou a ti.