Lembranças de Amélia
Nesta fresca tarde de Leiria, meu coração se pôs a reviver Amélia. Das outras tardes, de alegria, que experimentei ao lado dela. Das vezes em que, proibidos pela pecaminosidade do nosso amor, ousávamos vivê-lo às escuras e segredos, entre matas e lagos, livros ou alcovas arranjadas.
Dos sorrisos bobos e fora de hora, das fugidas da escola, das idas ao café. Das tantas vezes em que meus olhos se fitaram no olhar dela e, paralisados, emudeciam meus lábios e enchia a minh'alma de regozijo; pois em seus olhos eu via a minha própria felicidade.
Após a sua partida, não há quem a substitua nesta cidade. Não há pele tão alva, lábios tão rubros, cabelos tão lindos. Não há andar tão simples e provocante, olhar tão sedutor, sequer uma donzela que cante como só ela sabe cantar.
As minhas manhãs tem sido de céu nublado e as minhas noites sem estrelas. Eu e a lua nos fazemos companhia, na dor da solidão.
Bem vejo, no futuro, nossa história em livros e filmes, inspirados no nosso amor. Mas, seja como for ou aonde estiver, em meu corpo levarei o seu cheiro de mulher angelical, as marcas da sua voracidade carnal e o sabor do seu beijo picante-divinal.
Padre Amaro.
*inspirado no Romance "O Crime do Padre Amaro" - Eça de Queiroz