Fome mundana

Queria descobrir logo o que vai saciar a minha fome, estou cansado de sentir isso, de sentir esse vazio. Como de tudo que o mundo oferece, mas a fome ainda continua aqui. Continua me dando noites em claro. Há um tempo atrás achei que tinha descoberto o que me preencheria. Achei que era real, como tudo que havia tocado. Era uma garota e, era óbvio de se supor. Olhos misteriosos, pele macia, sorriso largo, vazio e afagador. Mas como todas as maravilhas desse mundo, ela se foi. Não foi ela que deixou esse vazio, foi algo que eu criei, algo que alimentei. Esse algo hoje me falta e deve ser dele que meu corpo grita sentindo falta. Busquei vícios, alimentei dores, garimpei sentimentos e chorei sorrisos. Nada adiantou e nada adiantará. A fome ainda persiste, assola, amarga a boca e encarcera a felicidade. Triste é aquele que nunca sentiu isso. Feliz o que ainda não nasceu e sortudo o que já morreu. Tenho tudo a minha frente, tudo de que preciso para amenizar a fome, mas não quero tocar, eu acho que estou me acostumando com esse estado entre ser e não ser, entre vivo e morto e entre o feliz e o triste. Acho que aqui que é o meu lugar, meu descanso e meu refúgio. Só quero metade de tudo, mas que essa metade leve tudo que eu sou. Quando meu corpo se consumir e os anos devorarem minhas memórias, quero estar preso em seu devaneio e, quero alimentar os teus medos para que possa me reviver em teus segredos. Doce, solitária e amarga criatura. Terrível e desoladora existência. Macia e atormentadora carência […]