Tempo

Ninguém escapa de seu toque. Olhos atentos, que nos marcam a pele, que consomem nossas forças. Tão sutil seu toque que os mais desatentos não percebem a sua existência e, quando dão por si, já foram mais castigados do que todos os outros. Alimenta-nos de esperança para no final quando estivermos de frente para tudo o que fizemos, nos arrancar o coração, para tirar de nós muitas lágrimas doces e salgadas. Felizes os que se entregaram a ele com paixão correndo em suas veias. Mas para os que ainda insistem em lutar contra, ele sempre tem um jeito irônico de mostrar como foi fácil ganhar essa disputa um tanto desleal. Escondemos as provas de que ele está nos tocando da forma que conseguimos, mas sempre nos deparamos com elas assim que damos de frente com nossa própria imagem na primeira hora do dia. São alguns dos minutos em que mais pensamos como ele é cruel. Somos brinquedos frágeis em suas mãos. Crianças que correm de um adulto com a esperança de um dia conseguir fugir. Tentamos contar nos dedos tudo que passamos, quando nos faltam os dedos, os olhos os completam a contagem encharcados de dores e tristeza, mas um tanto felizes. Aqueles que sabem usa-lo são sábios, os que o ignoram, são os piores tolos, mas só aqueles que o entendem são felizes. De fato, tudo que eu fiz hoje foi perder tempo. Tão precioso e mortífero, tempo […]