Preto e Branco
Nunca fui cego, apenas via coisas que não existiam, coisas que se sobrepunham à realidade. O trem corre os trilhos de uma maneira perpétua, tem o seu próprio motor, tem a sua própria força, mas é eternamente um escravo dos trilhos. Cronos e o oxigênio te consomem a cada passo, a experiência te deixa cada vez mais amargo, as faces vão perdendo o interesse, as palavras se tornam repetitivas e a essência seca. Cada vez durmo mais, assim eu sonho, a realidade não interrompe.
Por os pés no chão, tenho medo. Medo de perder a leveza, medo de perder a liberdade, medo do meu eu morrer antes de mim mesmo. A verdade é que é uma perda de tempo ser todas as cores, ser todas as essências, ser todas as melodias e fantasias em um mundo preto e branco, sem odor, vazio onde o som não se propaga e a realidade mata os teus sonhos.