MARATONISTA
Um pé a frente do outro. Novamente e mais uma vez. Os pensamentos gritam segredos ao vento, às árvores e aos gatos. Liberta-os. Os pássaros os levam para tão longe, onde, já cansados, repousam no miolo das flores. Como queria, ela mesma, adormecer entre as pétalas e se embebedar do perfume do néctar! O movimento se repete, ininterruptamente. E, quanto mais se esvazia das interrogações que a atormentam, mais leve fica; Oxigena. Os passos se aceleram e ela, como bailarina, quase não toca mais o chão. Flutua… Dança no ritmo do coração, dando fim a rigidez do músculo dos braços e os de expressão. As lágrimas voam contra o corpo, lavando o suor e a aflição do rosto. Avista uma borboleta, sorri. E ela corre. Corre para não ter que fugir de si mesma, tendo a angústia como seu maior capataz. Corre, pois acredita ser melhor descalçar os sapatos e revirar-se ao avesso do que ser como criança no consultório do doutor. Sabe que dói, mas não sabe de onde vem a dor.
Anne Py