A traça

Num dia desses acordei com toda aquela sede que nós amantes das palavras temos, dirigi-me até o cômodo da casa onde costumamos abrigar uma estante de aço com pequenas divisórias onde guardamos as nossas maiores preciosidades...

Ao avistar cada prateleira senti os olhos vibrarem num misto de prazer e satisfação ao contemplar tão grande tesouro ali tão próximo as minhas mãos, ainda que meio atrapalhada, estiquei os braços e com a mão direita alcancei uma das obras ali dispostas naquela estante...

Sentei-me o mais confortável que pude e mergulhei na magia em que a literatura nos proporciona algumas páginas viradas então me deparei com uma palavra ainda por mim desconhecida, que imediatamente me fez repetir o gesto anterior e apanhar um dos dicionários daquela estante...

E naquela ânsia de descobrir qual era o significado daquela palavra, ao abrir uma das páginas deparo-me horrorizada com uma minúscula criatura até então desconhecida por mim... Quando tento espanta-la a mesma anda tão depressa que me vejo minutos sapateando o piso do cômodo ao ponto de causar alguns não pequenos estalinhos desses que o sapato alto proporciona, estava assim vestida pelo fato de minutos antes estar me preparando para ir trabalhar, mas a leitura matinal é algo mágico que sequer me desfaço ainda que por alguns trocados... Mas ainda voltando ao pequeno animal percebo que o mesmo desaparece como que mágica... Minha mente ora preocupada em saber de qual criatura se trata, ora querendo o seu extermínio imediato, ligo o computador e pesquiso no “oráculo Google” e descubro que a criatura trata-se de uma espécie de traça que acaba com os sonhos de leitor... Eu que tinha um completo pavor das traças que apareciam em meu guarda-roupa agora me vejo enfurecida com a possibilidade daquela criaturinha querer apossar-se das minhas joias raras, cegada pelo completo ódio procuro em vão encontrar a criatura...

Depois de minutos ou talvez horas perdidas naquela empreitada lembro-me que terei que trabalhar, uma angustia toma conta de mim quando enfim por uma sorte do destino, nesse caso sorte minha é claro... Avisto a criatura enfiada em um cantinho da porta, começo novamente o sapatear e por uma sorte consigo atingi-la dessa vez em cheio... Então contente deixo- me cair no sofá e sentindo total satisfação do dever cumprido, palavras começam a brotar em minha mente, passo então a ficar preocupada quantas criaturas mais devem existir além dessa em minha casa? Não há outra solução a não ser procurar um profissional que extermine duma vez estas criaturas grotescas...

Enquanto isso o cadáver da criatura abandono ali no piso e vou embora preciso trabalhar.

Ping (Carla Pontes)
Enviado por Ping (Carla Pontes) em 13/04/2013
Reeditado em 13/04/2013
Código do texto: T4238370
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